In vino veritas**, René Magritte, La Corde Sensible, 1960 cortesia da internet *
Caio Plínio tinha razão,
a verdade está no vinho divino,
quando o seu perfume nos toca
a alma torna-se leve.
O choro brota seco sem lágrimas.
O rio corre, sem pressa, lento,
serpenteia a montanha, ao sabor do vento,
cantando o Cântico dos Cânticos.
O cenário é rosa envelhecido
e rivaliza com o terra de siena.
O pintor retrata a paisagem em tons suaves,
quentes... mas vazios.
No centro da tela um circulo aberto esbate-se de forma concêntrica,
perde-se no espaço, transforma-se num pequeno ponto.
O rosa avermelhado aumenta ou diminui
consoante o perfume do vinho.
O Jardim das Delícias brilha em cores psicadélicas.
É a nave dos loucos, criadores?
É criação fictícia, luxúria da mente e da carne.
Inferno, é a realidade após o sono.
In vinus veritas
repousam os pincéis,
as telas, as folhas brancas, vazias
e as penas pousadas ao lado dos tinteiros.
In vinus veritas
a cabeça cai sobre a mesa,
os olhos fecham-se
e o amor torna-se sofrimento.
ana,
5-09-16
** In vino veritas, in aqua sanitas (No vinho há verdade, na água a saúde), frase provável de Caios Plínio, o Velho.
*« Le nuage qui caresse un verre plus que ce verre ne le retient, que la proximité des montagnes libère plus qu’elle ne l’enferme, mène avec la douceur, la tendresse d’une main amoureuse, à une évidence finale. »
Suave a nuvem
Suave a nuvem que paira no céu.
Porém, não tanto como uma bola de sabão;
não se desfaz!
Fica na câmara guardada,
deixando o branco etéreo, enganador.
Não é branco, é cinza, é branco sujo,
é branco frio e branco quente.
Uma mera nuvem,
sem nada escrito,
pode deixar o vazio...
levar o sonho
e pesar tanto,
desfazendo-se como?
Como uma bola de sabão!
ana, 01-10-16
Para o Pedro: será que tem estes na sua rubrica, Intemporais? :))