05/05/2012

"As Suplicantes", Ésquilo revisitado

Ontem fui ver a peça: As Suplicantes, de Ésquilo, realizada pelo grupo de teatro Thíasos, do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 
A peça estreou no Museu Machado de Castro. 
Entre o  público havia muitos jovens, deu-me imenso prazer saber que se preserva o gosto pelo teatro clássico.  

Elenco: José Ribeiro Ferreira (Dânao), Rodolfo Lopes (Pelasgo), Pedro Sobral (Arauto), Ana Seiça, Andrea Seiça, Carla Coimbra, Cátia Gouveia, Carina Fernandes, Cláudia Sousa, Daniela Pereira, Elisabete Cação, Iolanda Mendes, Marta Bizarro, Margarida Cardoso, Tânia Mendes (Suplicantes)

"Apresentadas pela primeira vez em data insegura, mas por certo na década de 60 do século V a.C., As Suplicantes são a primeira de três tragédias que Ésquilo dedicou à saga das Danaides, trilogia da qual fariam parte os dramas perdidos Egípcios e Danaides. As cinquenta filhas de Dânao, posto que as desejam para casar os cinquenta primos, filhos de Egito, fogem do Nilo onde habitam para pedir asilo político e religioso em Argos. Perante o rei dessa terra, portanto, suplicam por proteção, apresentando como argumento maior a descendência de ambos de uma mesma mulher, Io, num passado mitológico ainda mais remoto. Chegadas à Grécia por mar, estas mulheres são o paradigma antigo de um grupo de exiladas – auto-exiladas, no seu caso – que reclama a proteção de outro povo, de outra cultura. A viagem é um motivo marcante em toda a peça, porquanto as Danaides estão ainda em trânsito entre dois países, entre duas nações. Recusam uma pátria que era a sua, de cuja linhagem real eram descendentes, e advogam a ancestralidade da sua origem grega para aí serem recebidas e protegidas dos primos que as perseguem, prometendo, mais do que um casamento nobre, a violência de umas bodas que lhes retirará os privilégios da sua nobreza e a autonomia de decisão. Estão em causa, como é natural, diversos condicionalismos políticos. Mas o drama destas mulheres – que, nas peças seguintes, seriam as assassinas dos primos, por ordem do pai – é facilmente identificável com o de tantas outras mulheres que, na linha do tempo que no essencial não muda, fogem a qualquer espécie de violência que lhes é imposta. Bárbaras, chegam a uma terra que dizem ser a sua, mas quem as vê não consegue identificá-las como gregas. Apátridas, apavoradas pela hoste masculina de inimigos que sabe vir no seu encalce, este grupo procura nos altares dos deuses da nova cidade um refúgio que grego algum pode recusar. E os primos, “falcões no encalce das pombas de semelhante plumagem”, chegam ávidos de sangue e vingança. No ar fica, para Gregos e Egípcios, a promessa de uma guerra pela posse das jovens. O sangue derramado, no campo de batalha e nos leitos nupciais nos quais havia de consumar-se o himeneu, fica desde cedo tragicamente indiciado". 
  Carlos Jesus, tradutor

Do espectáculo destaco a frase que era qualquer coisa como:

Demora um certo tempo para se apreciar um estranho!

4 comentários:

  1. Muito interessante. Gostei da frase - bem verdadeira. Bom Sábado!

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  2. Ana,
    Os alunos de teatro, são na sua maioria, interessados não só em livros de teatro como em literatura em geral. E lêem!!
    A Lumière tem uma clientela razoável de "malta" ligada ao teatro.
    Temos mesmo em frente o TUP - Teatro Universitário do Porto. Perto, o Teatro de Carlos Alberto e também muito perto a Academia Contemporânea de Espectáculo.
    Os alunos sentam-se no chão, compram livros dentro das possibilidades, alguns até gastam o dinheiro destinado ao lanche...
    É um público interessante e interessado. Por isso não fico surpreendida com o que escreveu...
    Beijinhos

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  3. Gosto muito de teatro. Vejo tudo o que posso, que não é muito, mas sempre que vem aqui alguma peça e posso ir, vou. A oferta não é muita, mas já é bem mais que há anos atrás. O nosso Cine-Teatro tem trazido coisas muito boas. Agora está em construção o Centro Cultural, espero que com ele venha mais oferta em todos os campos.
    Eu penso que quanto mais vemos, mais aprendemos a apreciar e também a avaliar.

    Tu por aí tens possibilidade de ver muito mais coisas interessantes.
    Bom fim-de-semana

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  4. Margarida,
    Obrigada, bom fim-de-semana. Beijinhos. :)

    Cláudia,
    Sim, tem razão, mas estavam mais para além dos que actuaram, ou fazem parte de qualquer estrutura ligada às artes. É muito bom.

    Os jovens do teatro devem ser clientes muito especiais, que bom que pode usufruir de uma companhia diferente da habitual. Deve ser interessante.
    Beijinhos. :)

    Isabel,
    Nem sempre vou, às vezes, como estou tão ocupada, esqueço-me do calendário dos espectáculos.
    Todavia, procuro ir sempre pois é uma noite diferente.

    É bom poderes usufruir em Castelo Branco de tantas iniciativas, é louvável. Os meus parabéns a quem produz e calendariza as actividades culturais da cidade.
    As cidades periféricas têm que dar a volta para não ser só as maiores cidades a ter tudo, não é?
    Beijinhos. :)

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