24/08/2025

Livro- Leituras de Verão!

Adquiri o livro: O Pensamento Esotérico de Fernando Pessoa, ensaio de Yvette Centeno, da Coleção &etc na Livraria Lumière.
Admiro a inteligência de Yvette Centeno e sempre me atraiu e fascinou o esoterismo de Fernando Pessoa. Não é um assunto que domine, no entanto, desperta a minha curiosidade. 

Capa e ilustração de Carlos Ferreiro. 
Adoro a capa do livro. Para mim, ela leva-me até ao Cais das Colunas. (foto minha)

Assim a Lei é (1) descobrir o que somos, para que saibamos o que é que intima e verdadeiramente queremos,  independentemente do que suppomos que queremos ou do que julgamos que devemos querer; (2) confornar todos os nossos pensamentos, emoções e impulsos com essa nossa intima e verdadeira vontade, por agradáveis que nos sejam,ou úteis que nos parecem, por isso que não são nossos, mas somente agradáveis e talvez úteis; (3),  feito isso, recusar systematicamente toda a acção externa que não sirva os fins d'essa  nossa verdadeira vontade, recusando-nos a ceder ás solicitações do chamado dever, ás chamadas da humanidade e aos receios do ridiculo e do maguante".

Yvette Centeno, O Pensamento Esotérico de Fernando Pessoa, Lisboa: &etc, 1990, p. 31

O livro foi editado em 1990 e teve uma tiragem de 500 exemplares. Congratulo-me por ter um deles. 

Yvette Centeno faz uma leitura profunda e simbólica da obra de Pessoa, colocando em diálogo a poesia com tradições herméticas e iniciáticas. Desvenda a dimensão mística e transformadora na escrita pessoana. O poema Do Vale à Montanha está referenciado na página 30 do livro em epígrafe.

                                                                                                    
Do vale à montanha,

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por quinta e por fonte,
Caminhais aliados.

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por plainos desertos
Sem ter horizontes,
Caminhais libertos.

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.

24-10-1932


Fernando Pessoa,  Poesias. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). p.146. (Arquivo Pessoa)

18/08/2025

Para uma amiga. Mar. Manhã

 Isabel, Parabéns e um dia muito especial!

Joaquín Sorolla, The Wounded Foot, 1909,
Getty, Museum Collection, Los Angeles

https://www.getty.edu/art/collection/object/103RDJ


MAR. MANHÃ

Suavemente grande avança
Cheia de sol a onda do mar;
Pausadamente se balança,
E desce como a descansar.

Tão lenta e longa que parece
De uma criança de Titã
O glauco seio que adormece,
Arfando à brisa da manhã.

Parece ser um ente apenas
Este correr da onda do mar
Como uma cobra que em serenas
Dobras se alongue a colear.

Unido e vasto e interminável
No são sossego azul do sol,
Arfa com um mover-se estável
O oceano ébrio de arrebol.

E a minha sensação é nula,
Quer de prazer, quer de pesar...
Ébria. de alheia a mim ondula
Na onda lúcida do mar.
(16-11-1909)


Obra Poética e em Prosa. Vol. I. Fernando Pessoa. (Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986. p. 157.



05/08/2025

Livros da Infância I - Memórias


Enid Blyton foi uma das minhas escritoras preferidas. Encontrei A Aventura na Ilha, da Editora Meridiano, s.d., na Feira de Velharias pela módica quantia de um euro e cinquenta cêntimos.

Finalmente, consigo ter este título e vou relê-lo com prazer! Li-o através da biblioteca fixa da  Biblioteca Calouste Gulbenkian. 



A coleção é composta por oito títulos.  Este foi o primeiro que li e recordo que gostei muito. (https://www.enidblyton.net/adventure-series/)

O ambiente de mistério, os lanches, os famosos scones constituem ainda uma memória viva!
Quando visitava a minha avó e havia um tempo de espaço para a leitura, lembro-me dos lanches que, aliados à leitura, superavam sempre as expectativas. 
Nas histórias havia sempre uma descrição gastronómica que acompanhava as aventuras. 

Hoje em dia, os livreiros têm um árduo trabalho, pois o mercado tem enfrentado uma concorrência cada vez mais acentuada, marcada por profundas transformações nos hábitos de leitura. 
A tradicional livraria de bairro teve que se adaptar a um cenário onde dominam as grandes superfícies, as cadeias multinacionais e as plataformas digitais. A comodidade das compras digitais, associada a campanhas promocionais agressivas e prazos de entrega rápidos, tem levado muitos leitores a preferir esta forma de aquisição de livros, em detrimento do atendimento personalizado das livrarias físicas, o que é pena!

Os livros da minha infância foram todos comprados nas livrarias tradicionais. Onde vivi só havia, na época (anos 60), duas livrarias e uma delas ainda acumulava a função de papelaria.

Agradeço a todos os livreiros tradicionais que ainda resistem, tendo em especial atenção as poucas livrarias que fazem parte do meu coração.

Com a cortesia do Youtube



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