Ai Ana, quando me lembro nos tempos ali passados, fico com o peito apertado. Passei uma temporada larga em Paris quando jovem (são as loucuras da juventude!), e, nessa altura, aconteceu que tinha problemas com a solidão, como soe acontecer com muitos portugueses que vivem fora do seu país, algo que partilhamos com o resto da humanidade, e a Notre Dame, como um farol, servia-me como ilha onde me refugiava. Naquela altura eram tradição (não sei se ela continuou ou não, gostaria de acreditar que sim) os concertos de órgão, abertos ao público, aos domingos pelas 17 horas, se bem me lembro. E, como tantas outras centenas de pessoas, refugiava-me ali, sob a música daquele órgão fabuloso, observando os raios de luz colorida coada pelos vitrais das grandes rosáceas. Tempos de grande tranquilidade na precariedade da minha vida. Regressei vezes sem conta a Paris, e aquele templo dava-me sempre a ideia de um ser imutável no tempo, como uma presença imanente e constante na imensidade transitória do universo. Mal sabia eu que era tão transitória como outra coisa qualquer, e, infelizmente, perecível. Renascerá, claro, e sob os mesmos moldes, ou, muito provavelmente, melhores ainda, todavia as minhas memórias do local alterar-se-ão, ainda que eu não queira. A cadeira onde me sentava (tentava que fosse sempre a mesma) não estará lá, o ambiente será semelhante, mas, na minha cabeça, não será igual. Espero que tudo esteja bem consigo Manel
Uma tragédia cultural para o mundo.
ResponderEliminarDesculpa as ausências, mas não tem dado e ando esgotado com a azáfama do livro.
Já disse não sei quantas vezes que terminara a recolha das imagens...
Um beijo muito amigo, querida Ana.
Pois foi, João.
EliminarTambém tenho que pedir desculpa pelas minhas ausências.
Um beijinho muito amigo.
Ana
Há locais que são mesmo um pouco de todos.
ResponderEliminarE que, quando são afectados, nos afectam a todos um pouco.
Beijinhos
Pedro,
EliminarDói a alma ver esta catedral em ruína.
Beijinho.:))
Não voltarei a vê-la como era. Morreu um pouco do Homem.
ResponderEliminarBea,
EliminarCompreendo o que sente. Também me alio ao seu sentimento.
Boa Páscoa!:))
A Páscoa é uma passagem
ResponderEliminaruma fuga para a vida
Bj
Que bonito o que diz, Mar Arável.
EliminarBj. :))
Uma perda irreparável.
ResponderEliminarComo acreditar no que fica, no que ficou, se a memória poderá ser mentirosa, subjectiva, manipulável...
Beijo e boa Páscoa.
Ai Ana, quando me lembro nos tempos ali passados, fico com o peito apertado.
ResponderEliminarPassei uma temporada larga em Paris quando jovem (são as loucuras da juventude!), e, nessa altura, aconteceu que tinha problemas com a solidão, como soe acontecer com muitos portugueses que vivem fora do seu país, algo que partilhamos com o resto da humanidade, e a Notre Dame, como um farol, servia-me como ilha onde me refugiava.
Naquela altura eram tradição (não sei se ela continuou ou não, gostaria de acreditar que sim) os concertos de órgão, abertos ao público, aos domingos pelas 17 horas, se bem me lembro.
E, como tantas outras centenas de pessoas, refugiava-me ali, sob a música daquele órgão fabuloso, observando os raios de luz colorida coada pelos vitrais das grandes rosáceas.
Tempos de grande tranquilidade na precariedade da minha vida.
Regressei vezes sem conta a Paris, e aquele templo dava-me sempre a ideia de um ser imutável no tempo, como uma presença imanente e constante na imensidade transitória do universo.
Mal sabia eu que era tão transitória como outra coisa qualquer, e, infelizmente, perecível.
Renascerá, claro, e sob os mesmos moldes, ou, muito provavelmente, melhores ainda, todavia as minhas memórias do local alterar-se-ão, ainda que eu não queira. A cadeira onde me sentava (tentava que fosse sempre a mesma) não estará lá, o ambiente será semelhante, mas, na minha cabeça, não será igual.
Espero que tudo esteja bem consigo
Manel