Dia 5 de julho, 2019
"A culpa foi minha, chorava ela, e era verdade, não se podia negar, mas também é certo, se isso lhe serve de consolação, que se antes de cada acto nosso nós puséssemos a prever todas as consequências dele a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala.“
...
(livro dos conselhos)
- Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
- É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade.
- Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira.
- Se queres ser cego, sê-lo-ás.
- O medo cega.
- O medo cega... são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos.
- Alguns irão odiar-te por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, Também não nos tornou piores.
- A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.
- Água mole em brasa viva tanto dá até que apaga, a rima que a ponha outro.
- A força e a natureza das circunstâncias influem muito no léxico.
- Mas quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos.
- Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.
- É que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos.
- Costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras.
- Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.
José.Saramago, Ensaio sobre a cegueira. Companhia das Letras. (24º impressão), 2002.
Cortesia youtube
Duas bonitas fotos.
ResponderEliminarBoa tarde!
Obrigada,MR.
EliminarBom dia!:))
Olá Ana,
ResponderEliminarParece-me o Pelourinho de Ourém; será?
Grande livro.
Grande banda.
Bom resto de dia!
🌻
Belo textos. Gosto também das fotografias. Beijinhos!
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