11/01/2020

Salvador

Entardecer


A cidade dormiu cedo.
A lua ilumina o céu, vem a voz de um negro do mar  em frente.
Canta a amargura da sua vida desde que a amada se foi.
No trapiche as crianças já dormem.
A paz da noite envolve os esposos.
O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a morte está próxima.
Os corpos não se balançam mais no ritmo do amor.
Mas no coração dos dois meninos não há nenhum medo.
Somente paz, a paz da noite da Bahia.
Então a luz da lua se estendeu sobre todos,
as estrelas brilharam ainda mais no céu,
o mar ficou de todo manso
(talvez que Iemanjá tivesse vindo também a ouvir música)
e a cidade era como que um grande carrossel
onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia.
Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos,
soltando palavrões e fumando pontas de cigarro,
eram, em verdade, os donos da cidade,
os que a conheciam totalmente,
os que totalmente a amavam,
os seus poetas.
Jorge Amado, Capitães da Areia
http://mundodelivros.com/poemas-de-jorge-amado/


5 comentários:

  1. Olá Ana
    Os Capitães da Areia é uma das minhas obras de eleição.
    Uma Ave Maria sempre emocionante de ouvir.
    beijinhos

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  2. tão bonita, esta Avé Maria de schubert cantada por Pavarotti. E tanto gostei do livro Os Capitães da Areia, comprado num momento de inspiração:).
    Desejo-lhe boa semana

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  3. Gostei muito. Aproveito para deixar votos de Feliz Ano de 2020!

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  4. Duas preciosidades, aqui.
    Salvador: polo numa geometria que se dilui.
    Beijo

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