08/11/2017

Inacção

A inacção consola de tudo.

A inacção consola de tudo. Não agir dá-nos tudo. Imaginar é tudo, desde que não tenda para agir. Ninguém pode ser rei do mundo senão em sonho. E cada um de nós, se deveras se conhece, quer ser rei do mundo.

Não ser, pensando, é o trono. Não querer, desejando, é a coroa. Temos o que abdicamos, porque o conservamos, sonhando, intacto eternamente à luz do sol que não há, ou da lua que não pode haver.
s.d.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Vol.I.  (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990, p. 221.


9 comentários:

  1. Um desassossego que chega actual aos dias de hoje.
    A despropósito, o nosso Secretário-Geral das Nações Unidas declarou que 8 valem tanto como os restantes. Não me admiro. As contas de dividir sempre foram difíceis de fazer e a prova real é muito trabalhosa... Adições e subtraçoes...

    Bj.

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    1. Agostinho,
      Só hoje vim aqui e pôs-me a rir.
      Beijinho.:))

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  2. A fotografia acrescenta e a música fica bem.

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  3. Com a devida vénia, discordo de Bernardo Soares. A inacção não é um consolo, mas o desconcerto trágico da morte, o império da passividade reactiva e masoquista. Um sonho triste que talvez nem se chame tal.

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    1. Bea,
      Gostei do que disse; porém, às vezes é bom partilhar a ideia de BS.
      Boa noite. :))

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  4. Penso que já tinhas publicado uma vez este texto de Pessoa...
    Adorei o caracol...
    beijinhos

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