24/03/2010

Histórias... Irene Lisboa!


Fauno. No jardim do lado há um fauno. Há bocado estive encostada à janela e achava que copiava a cómoda atitude do fauno: ombro apoiado, uma perna descansada na outra…Pois aquele fauno tem uma história muito curta. Apesar do seu ar de vetustez enganar, de aparentar idade naquele poiso… Não deixa de ser elemento deste jardim, há apenas um ano! Vi colocarem-no lá, com a sua primitiva e honesta cor de barro. Depois é que o pintaram de branco.
A sua história, afinal, é o ser de barro e parecer de mármore e de ser recente e parecer antigo. Uma história sem entrecho.

Irene Lisboa, Solidão, notas no punho de uma mulher, Lisboa: Editorial Presença, Vol II, p. 59-60.

5 comentários:

  1. Observação fina, rigorosa, profunda, não é? São as qualidades que nela mais aprecio. Uma mulher notável!

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  2. Sim! Estou a gostar imenso de folhear o livro e ler estas histórias; parar voltar atrás e começar de novo mais à frente... sem a disciplina de ler da primeira página até à última. Gosto do olhar penetrante dela sobre o que a rodeava.
    Obrigada:)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Fui eu que removi o comentário duplicado.:)

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  5. Exactamente! são livros que nos permitem a indisciplina, o que faz, também, o seu encanto. Pequenas histórias, comentários, reflexões, desabafos, notas pessoais, completamente fora dos «cânones» literários. Não é autobiografia, não é diário, não são memórias e, no entanto, tem um pouco de tudo isso. Ainda bem que está a gostar! :-)

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