29/12/2018

Da Terra...

Da Terra  para o Céu, 
um
 Feliz Ano Novo!



O passado,                        o presente,                                 o futuro





O futuro é uma equação desconhecida, por isso escolhi as cores quentes para que ele nos
traga harmonia, calor e amor.






08/12/2018

Máscara na caixa quadrada



Depus a máscara e vi-me ao espelho.

Depus a máscara e vi-me ao espelho.
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sou a máscara.
E volto à personalidade como a um terminus de linha.

18-8-1934


Álvaro de Campos, Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993), p. 61.


Já se canta o Natal...

01/12/2018

"Ó ditosa ventura!"

Noite Escura
Em uma Noite escura,
com ânsias em amores inflamada,
ó ditosa ventura!
saí sem ser notada,
estando minha casa sossegada.

A ocultas, e segura,
pela secreta escada, disfarçada,
ó ditosa ventura!,
a ocultas, embuçada,
estando minha casa sossegada.
Em uma Noite ditosa,
tão em segredo que ninguém me via,
nem eu nenhuma cousa,
sem outra luz e guia
senão aquela que em meu seio ardia.

Só ela me guiava
mais certa do que a luz do meio-dia,
aonde me esperava
quem eu mui bem sabia,
em parte onde ninguém aparecia.
Ó Noite que guiaste!,
ó Noite amável mais que a alvorada!,
ó Noite que juntaste
Amado com amada,
amada nesse Amado transformada!


No meu peito florido,
que inteiro para ele se guardava,
quedou adormecido
do prazer que eu lhe dava,
e a brisa no alto cedro suspirava.
Da torre a brisa amena,
quando eu a seus cabelos revolvia,
com fina mão serena
a meu colo feria,
e todos meus sentidos suspendia.

Quedei-me e me olvidei,
e o rosto inclinei sobre o do Amado:
tudo cessou, me dei,
deixando meu cuidado
por entre as açucenas olvidado.
São Jão da Cruz, Transcrito de Poesia de 26 Séculos, (Tradução de Jorge de Sena) Coimbra: Fora do Texto, 1993.

16/11/2018

Parabéns, João Menéres

Parabéns, João Menéres.
Desejo que tenha um final de dia feliz!

Um jantar sublime com muitos Vivas! :))


Henri Cartier-Bresson, Simiane-la-Rotonde (France, 1969)

Resultado de imagem para grandes fotógrafos

https://vejasp.abril.com.br/atracao/exposicao-de-henri-cartier-bresson/

Ainda para si esta foto de Bresson e a Carmen, pois então. :))


08/11/2018

Se...

Se a trança de Inês se ornamentasse
                              de certeza que eram estas orquídeas a sua escolha



Cláudia, obrigada pela Trança de Inês de Rosa Lobato Faria.


03/11/2018

Para a Margarida

Parabéns, Margarida!
Desejo que passe um dia muito feliz.

John Singer Sargent, “The Fountain, Villa Torlonia, Frascati, Italy,” 1907- (detalhe),
Art Institute of Chicago



https://i0.wp.com/www.gailsibley.com/wp-content/uploads/2013/08/IMG_8771.jpg




27/10/2018

na hora de pôr a mesa






na hora de pôr a mesa, éramos cinco

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas, Vila Nova de Famalicão. Quasi, 2007.


16/10/2018

Para a Maria João

Parabéns!
Desejo que passe um dia muito feliz e com muita luz, à beira-mar.

Para uma mulher vitoriosa - "Sê lanterna, sê luz...! :))


Vann Gogh- Detalhe de Noite estrelada, cortesia do google 
Resultado de imagem para van gogh




Sê lanterna, sê luz com vidro em torno,

Sê lanterna, sê luz com vidro em torno,
Porém o calor guarda.
Não poderão os ventos opressivos
Apagar tua luz;
Nem teu calor, disperso, irá ser frio
No inútil infinito


3-3-1929

Ricardo Reis, (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, p.139.




De uma Maria João para outra Maria João - Fantasia de Chopin


13/10/2018

DÉJEUNER DU MATIN

Pequeno almoço de Sábado



DÉJEUNER DU MATIN

Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec le petit cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a resposé la tasse
Sans me parler
Il a alumé
Une cigarrette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis des cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur la tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
E moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
E j'ai pleuré.

Jacques Prévert ( https://trapichedosoutros.blogspot.com/2012/07/dejeuner-du-matin-cafe-da-manha-de.html)

Uma actriz que adoro, um filme que revivi.

07/10/2018

Os livros são um oceano, para uma amiga

Parabéns Cláudia,

Desejo que tenha passado um dia feliz!

Imagem retirada do pinterest
Ocean of knowledge


Mulher a ler - Imagem retirada do pinterest

The Master of the Female Half-Lengths, active ca.1530-1540, was a Dutch Northern Renaissance painter or likely a group of painters of a workshop. The name was given in the 19th century to identify the maker or makers of a body of work consisting of 67 paintings to which since 40 more have been added.

Tenho andado ainda longe da internet, isto é, só venho pontualmente aqui, o que é um acto egoísta. Porém, houve uma alma querida que me avivou a memória, através de uma sms que só li hoje. 
Daí só aparecer aqui a minha manifestação de amizade, um dia depois :((. Contudo, sabe que me lembro muitas vezes de si e do seu magnífico espaço que me vai alimentando. O oceano que corre e traz o oxigénio que preciso.

Por tudo, pela amizade, pelos livros, pela sua gentileza constante,
um beijinho de parabéns pintado a ouro renascentista, como a segunda imagem.
Mil felicidades e muitos dias 6 de Outubro!


06/10/2018

... a flor do cardo


A flor do cardo em pranto



VISITA

Adornou o meu quarto a flor do cardo,
Perfumei-o de almiscar recendente;
Vesti-me com a purpura fulgente,
Ensaiando meus cantos, como um bardo;

Ungi as mãos e a face com o nardo
Crescido nos jardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
Mysteriosa visita a quem aguardo.

Mas que filha de reis, que anjo ou que fada
Era essa que assim a mim descia,
Do meu casebre á humida pousada?...

Nem princezas, nem fadas. Era, flor,
Era a tua lembrança que batia
Ás portas de ouro e luz do meu amor!


Antero de Quental, in Sonetos (https://pt.wikisource.org/wiki/Visita)

In Memoriam -  uma ária que gosto muito de ouvir na belíssima voz de Monserrat Caballé

01/10/2018

No dia da música: A REVOLUÇÃO DAS FLORES

Jan Brueghel, o Velho, detalhe -
Still Life with a Cop, a Crown of Flowers and a bouquet,
(retirado do site assinalado na imagem: arte.sunlight.com)

Still Life with a Cop, a Crown of Flowers and a bouquet of F - Jan Brueghel the Elder


A REVOLUÇÃO DAS FLORES
Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, as cinerárias, os gerânios e as hortências se recusam a florirem e os jasmineiros e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano, medidas eficazes contra as arbitrariedades das floristas, a extinção pura e simples das estufas. Uma nuvem de pó cobre a cidade. Em vão a polícia controla os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelícias. Tulipas que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas de cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas, vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuntes. Às dezasseis horas numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro, um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos jardins.

Jorge Sousa Braga, Lisbon Revisited, Dias de Poesia (Leitura na Casa de Fernando Pessoa 14 e 15 de Junho). Lisboa:  Casa Fernando Pessoa, 2018, p. 30


Uma das  músicas  do Feiticeiro de Oz

22/09/2018

Caminhos de pedras


(...) estou a ficar enfeitiçada por este sossego, os caminhos de pedras brancas com plátanos, trepadeiras, de folhas verdes e vermelhas, o pinhal de Camarido, as casas fechadas, compostas, em frente ao  mar, o sol e a sua estradade luz e de sons nas águas quase paradas. Penso que hei-de  acabar a vida numa cabana ao pé do mar. E sempre a praia me pareceu melhor no outono.
Carta a Jacinto Prado Coelho, 1 de outubro 1971.
Viajar com... 
Maria Ondina Braga, Coleção: Viajar com... Os Caminhos da Literatura, Texto de Isabel Mateus. Braga: Opera Omnia, Cultura do Norte, 2012, p. 22.

Adquiri este livro na Livraria Lumière. Obrigada Cláudia por me dar a conhecer esta colecção.


08/09/2018

Vontades ou pensamentos?

Dança ao vento



Tudo que faço ou medito

Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço —

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.

13-9-1933

Fernando Pessoa, Poesias, (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p. 177.

04/09/2018

Perda irreparável - Amor ou desamor?








Amor ou desamor pela História?

O Fogo um dos elementos químicos estudados desde sempre, o fogo que aquece, solda, contribui para a evolução do Homem, também, destrói a Natureza, Casas, Vidas, destrói Memórias. 
Uma simples reacção química faz desaparecer 200 anos e  séculos de História guardados. 
A História que para alguns é tão pouco valorizada, como se comprova nas notícias com a falta de preocupação pela segurança dos edifícios históricos, ou fiscalização sobre a mesma. 
Eis, pois, que desaparece assim a cultura de dois povos, de um povo, de vários e múltiplos povos e identidades. 

As Memórias, a Cultura, pouco importam no imediato. Só quando são irrecuperáveis é que se tornam valiosas.
O dinheiro é para investir de acordo com a "moda" do modelo económico em voga, experiências... interesses... investimento no imediato, no que lucra com horizonte definido.
O mesmo se passa com a Educação, a cultura Clássica está a morrer aos poucos, não interessa porque é difícil, não provoca efeitos estatísticos de acordo com o que se quer provar. Não arde com o fogo, arde com mudanças de secretaria. 
Lamento não ter visitado este museu. Tinha-o na lista para uma futura viagem que ainda não se tinha proporcionado. Jamais o conhecerei. 
Se nada estava digitalizado em lugar seguro, também não pode ser um dia enviado para o Universo, uma quimera que o Homem alimenta.


01/09/2018

Porta fechada.

Porta branca hipnótica


Não vou deixar a porta entreaberta.
Vou escancará-la ou fechá-la de vez.
Porque pelos vãos, brechas e fendas...
passam semiventos, meias-verdades 
e muita insensatez.


Cecília Meirelles, Poesia Completa. Editora Nova Fronteira, Dezembro de 2001


30/08/2018

Um dia bem passado- Castelo Branco I

As férias são aproveitadas para ler, descansar e reencontrar os amigos, neste caso a Isabel.
Há muito que prometia ir visitá-la, o momento chegou e a minha amiga proporcionou um dia muito agradável onde o riso, a conversa e a cultura tiveram lugar.

Obrigada, Isabel! 

Castelo Branco - A Torre do Relógio



Um dos caminhos que calcorreámos foi para o Centro Cultural de Castelo Branco que tinha uma exposição sobre ilustração e ilustradores - VIII Bienal Internacional de Ilustração para a Infância. Ali havia beleza, originalidade quer dos trabalhos apresentados, quer da forma como estavam expostos aos olhares dos visitantes.

Gostei de muitas ilustrações, aqui deixo uma pequena mostra. 

Ilustradores Italianos



Ilustrador belga

Ilustradora portuguesa


Exposição de Ingrid Godon, ilustradora belga, com uma mostra de 100 trabalhos.




25/08/2018

Preto e Branco

O tempo passa e fica inerte
eu olho,
tu olhas,
ele olha
mas não vimos com a mesma lente.





“A fotografia é uma lição de amor e ódio ao mesmo tempo. É uma metralhadora, mas também é o divã do analista. Uma interrogação e uma afirmação, um sim e um não ao mesmo tempo. Mas é sobretudo um beijo muito cálido.”

23/08/2018

In Memoriam - A. H. Oliveira Marques

A toponímia marca as memórias de um povo, regista aqueles cuja obra ajudou a modificar o mundo e a entendê-lo melhor. Eis a minha homenagem a um nome que por ter influenciado gerações fica assim eternizado, não só pela obra, mas pelas mãos de outros homens que o evocaram.

A. H. Oliveira Marques nasceu em 1933 e faleceu em 2007

file:///C:/Users/Eduardo/Downloads/Toponimia_Lx_Oliveira_Marques.pdf*

A inscrição do nome de A. H. Oliveira Marques na toponímia de Lisboa testemunha o valor que atribuímos ao papel da memória como elemento essencial à construção de uma identidade sólida, à formação da cidadania e de um sentido de comunidade. O reconhecimento público e a homenagem ao historiador A. H. Oliveira Marques, ao promover o reavivamento das origens e protagonistas da nossa história coletiva, simbolizam a importância da consciência do passado como forte elo de ligação ao presente e ao futuro. *


Lisboa, junho de 2017 

Catarina Vaz Pinto 

Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa



18/08/2018

Fotografia no dia mundial da fotografia

A  preto e branco para prestar homenagem a todos os fotógrafos do passado que contribuíram para que o dia 19 fosse o dia Mundial da Fotografia.
Sou apenas uma curiosa e gosto de tentar olhar as coisas de forma diferente, "if I could have"!


E para assinalar o dia 19 de Agosto- Dia Mundial da Fotografia, 
deixo um filme que estreou em 2008, baseado na história real de Maria Larsson, a primeira e uma das maiores fotógrafas suecas, que vivia em Gotemburgo no início de 1900. O filme foi dirigido por Jan Troell, com Maria Heiskanen e Mikael Persbrandt.

Kazuo Ishiguro para a Isabel

Para a Isabel, com o desejo de um dia muito feliz!

Parabéns!

O jardim tem uma aspecto natural, espontâneo; ninguém diria ter sido planeado.

Kazuo Ishiguro, Um Artista do Mundo Flutuante. Lisboa: Gradiva, 2018, p.43.


Este jardim tem mar...
Dizem que: o que não é planeado é melhor, mas no fundo há algo sempre planificado. :))

Claude Monet, Jardim de Sainte-Adresse, 1867, 
The Metropolitan Museum of Art ( nº 67.241)
Garden at Sainte-Adresse, Claude Monet (French, Paris 1840–1926 Giverny), Oil on canvas

Polina, um filme que esteve no Festival de Veneza em 2016, é de  Angelin Preljocaj e  Valérie Müller.

O título em francês é Polina, danser sa vie.

16/08/2018

In Memoriam - Aretha Franklin

Homenagem a uma Senhora com uma voz maravilhosa. 
Algumas escolhas. Falta aqui uma que também, adoro -
 "You Make Me Feel (Like A Natural Woman)"




Aretha Franklin, 1942-2018
(...)
Baby, baby, baby, this is just to say
How much I'm gonna miss you,
But believe, while I'm away...
That I didn't mean to hurt you
Don't you know that I'd rather hurt myself?
(I'd hurt myself, I'd hurt myself...)
(...)


11/08/2018

Moldura de Verão, Leituras de Verão III - John Dunning

Uma grade pouco fechada em frente ao rio



«Naqueles primeiros anos do Internet, colei um epigrama na minha secretária: Um  livro é um espelho. Se um burro se mira, não é um apóstolo que se reflecte. A frase foi escrita há dois séculos por um espirituoso alemão chamado Lichtenberg, mas suponho que se aplica muito bem, hoje em dia. ao ecrã de um computador.» [Cliff Janeway, livreiro]

John Dunning, A Promessa do Livreiro. (Tradução: Fernanda Semedo). Lisboa. Editorial Estampa,2007, p.61

John Dunning foi vencedor do prémio  Nero Wolfe para literatura policial. Estou a gostar bastante deste detetive livreiro que procura livros raros de Richard Burton.

04/08/2018

Azul e branco - Uma porta...

Luz e sombra em tons de azul


ALGA

Paira na noite calma
O silêncio da brisa...
Acontece-me à alma
Qualquer coisa imprecisa...


Uma porta entreaberta...
Um sorriso em descrença...
Uma ânsia que não acerta
Com aquilo em que pensa.

Sonha, duvida, elevo-a
Até quem me suponho
E a sua voz de névoa
Roça pelo meu sonho...


24-7-1916


Fernando Pessoa, Novas Poesias Inéditas. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993), p. 31.


29/07/2018

Moldura de Verão- Leituras de Verão II - Kazuo Ishiguro

Um Verão com um começo nipónico, Ishiguro segue-se a Mishima. Gostei do romance com sabor histórico.

O romancista Kazuo Ishiguro na sua casa, em Londres, logo após o anúncio do Nobel - Alastair Grant / AP Fotografia tirada daqui

 O romancista Kazuo Ishiguro em uma coletiva de imprensa em sua casa, em Londres, logo após o anúncio do Nobel Foto: Alastair Grant / APResultado de imagem para um artista do mundo flutuante

Imagem do livro retirada da net da Wook

A preocupação de um artista é captar a beleza onde quer que a encontre. Mas, por mais hábil que seja, terá sempre muito pouca influência no tipo de questões que falas*. De facto, se a Okada-Shingen é a tal como a descreves, então parece-me que estás equivocada nos seus propósitos. Parece fundar-se em expectativas ingénuas sobre o poder da arte.

Kazuo Ishiguro. Um Artista do Mundo Flutuante. (Trad. Rui Pires Cabral). Lisboa: Gradiva, 2018, p. 207, (1ª ed. em Portugal 2018, título de 1986).

*[poder político/lutar conta a pobreza]


27/07/2018

Sobreviver... nadar...

Sobreviver



Sea Sorrow, 2017, documentário dirigido por Vanessa Redgrave, foca a crise actual dos migrantes e faz um paralelismo com a angustiante vida dos que migraram por causa dos horrores da guerra ao longo dos tempos. Mais, enuncia os Direitos do Homem, algo que no século XXI ainda não se conseguiu atingir.

Um documentário que vi recentemente na íntegra e que aconselho a verem.

21/07/2018

Moldura de Verão, leituras de Verão -Yiuko Mishima

Leituras de Verão - comecei as leituras de Verão com um livro de contos de Mishima no qual desvenda a alma humana e a dificuldade em lidar com a dor de uma grande perda. É um livro profundo e bonito.

A vida humana é finita mas eu gostaria de viver para sempre”, escreveu Mishima na manhã antes da sua morte, citação retirada do The Guardian. 
Mishima suicidou-se segundo o ritual seppuku, conhecido no ocidente por haraquíri (1970).





La mort… nous affecte plus profondément 
sous le règne pompeux de l’été.
Baudelaire
 Les Paradis Artificiels

"A praia de A., próxima da extremidade sul da península de Izu, ainda está intacta. Lá pode‑se tomar banho. É certo que o fundo do mar é desigual e cheio de calhaus e que as ondas são fortes, mas a água é limpa e a terra entra pelo mar num suave declive, tendo no conjunto excelentes condições para se nadar. Sobretudo por estar afastada, a praia de A. não sofre nem do barulho nem da sujidade das estâncias balneares mais próximas de Tóquio. Fica a duas horas de autocarro de Itō.
(...)
As crianças cansaram‑se do castelo de areia. Desataram a correr para que a água jorrasse das poças à beira das ondas. Acordada do pequeno e tranquilo universo pessoal para o qual tinha resvalado, Yasue correu atrás delas. 
Mas não estavam a fazer nada que fosse perigoso. Tinham medo do bramido das ondas. Havia um pequeno redemoinho para lá da rebentação. Kiyoo e Keiko de mão dada, com água até à cintura e os olhos brilhantes, faziam frente à água, sentindo a areia mexer debaixo dos pés nus. 
— Parece que alguém nos está a puxar — disse Kiyoo à irmã. 
Yasue aproximou‑se deles e proibiu‑os de irem mais longe. Mostrou‑lhes Katsuo, não o deviam deixar sozinho, deviam ir brincar com ele. Mas não lhe prestaram atenção. Estavam de pé, de mãos dadas, felizes, e olhavam‑se sorrindo. Tinham um segredo: a areia que sentiam mexer debaixo dos pés."

Yiuko Mishima, Morte em Pleno Verão. Torres Vedras:Editorial Estampa, dezembro de 2006 p.11 e 12.

15/07/2018

Homenagem a Myra!

In memoriam:
A Myra agradeço a arte e a sensibilidade.
Até sempre!

Myra Landau, Derrota dos Pesadelos

"envelhecem apenas os que não olham e não escutam 
o caminhar de anos se veste de sonhos 
é a derrota dos pesadelos". 
Myra Landau 


29/06/2018

Claro/ escuro

Claro/escuro de dentro para fora

(...)

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

(...)



7-11-1915
“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). p. 83.



Larghetto & Andante Molto Ah, ch'infelice sempre Me vuol Dorilla ingrata, Ah sempre piú spietata, Mi stringe à lagrimar. Per me non v'è ristoro Per me non v'è speme. E il fier martoro e le mie pene Solo la morte può consolar. Counter-tenor: Andreas Scholl Ensemble 415 dir.: Chiara Banchini http://www.harmoniamundi.com/home?vie... Painting: Portrait of a Young Girl by Pietro Antonio Rotari

22/05/2018

Homenagem a Júlio Pomar e a António Arnaut

A minha escolha para homenagear Pomar recaiu na ilustração de D. Quixote de la Mancha... talvez porque há pouco tempo esta obra esteve presente numa discussão.

Esta imagem foi retirada da  Biblioteca Nacional Digital. Fez parte de uma exposição que infelizmente não visitei, Ilustradores de Dom Quixote, realizada para comemorar o IV centenário da publicação de Don Quijote de la Mancha, obra editada, em 1605, em Madrid e, logo a seguir, ainda no mesmo ano, em Lisboa. A Biblioteca Nacional associou-se à comemoração da efeméride com a exposição: ver aqui.
Júlio Pomar, Ilustração
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Mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é utopia, é justiça!
Cervantes, D. Quixote de La Mancha
https://www.mensagenscomamor.com/trechos-dom-quixote



A António Arnaut

Se Penso, Existo

Se penso, existo; se falo, existo para os outros, com os outros. 
A necessidade é o lugar do encontro. Procuro os outros para me lembrar que existo. E existo, porque os outros me reconhecem como seu igual. Por isso, a minha vida é parte de outras vidas, como um sorriso é parte de uma alegria breve.
Breve é a vida e o seu rasto. A posteridade é apenas a memória acesa de uma vela efémera. Para que a memória não se apague, temos que nos dar uns aos outros, como elos de uma corrente ou pedras de uma catedral.
A necessidade de sobrevivência é o pão da fraternidade.
O futuro é uma construção colectiva.


António Arnaut, in 'As Noites Afluentes' 
( Retirado do citador)


Para o pai do SNS (Serviço Nacional de Saúde), o Dr. António Arnaut, que ouvi algumas vezes em palestras, deixo este Requiem.




Aproveito para agradecer a todos a Vossa presença amiga.

19/05/2018

Estou...sim...

A faina está quase a começar...



Em memória de Maio de 68  ( Paris, 18 de Maio, revolta de estudantes universitários, pela mudança, pelo amor e a paz.) 

05/05/2018

Nice, 2015

Nice, 2015

O livro que comecei a ler compreende uma viagem a Roma, a Brasília, à Sicília, à Cróacia e o regresso. Comprei-o por causa do tema e do título: Não se Encontra o que se Procura. O livro é de Miguel Sousa Tavares. Andei uns tempos zangada com este escritor mas gostei deste título...

Se pudesse ter uma vida paralela, gostaria de ter a vida de um caracol, carregando comigo a casa e plantando-a onde houvesse sol e silêncio, onde houvesse mar e espaço, onde houvesse tempo e distância.
Onde houvesse essa improvável e louca hipótese de ser feliz fora do mundo.

( na badana do livro)

Miguel Sousa Tavares,  Não se Encontra o que se Procura. Clube do Autor, SA, 2014.

A fotografia é um nonsense, mas é o Velho Mundo a contrapôr-se ao Novo Mundo...

Desejava ir a Sorrento...

Boa noite!

03/05/2018

Para uma amiga

Para a Gracinha, com um grande beijinho de Parabéns e o desejo
de um resto de um dia feliz!


Gostas do tapete de margaridas?



28/04/2018

De onde é quase o horizonte


De onde é quase o horizonte

De onde é quase o horizonte
Sobe uma névoa ligeira
E afaga o pequeno monte
Que pára na dianteira.

E com braços de farrapo
Quase invisíveis e frios
Faz cair seu ser de trapo
Sobre os contornos macios.


Um pouco de alto medito
A névoa só com a ver.
A vida? Não acredito.
A crença? Não sei viver.

4-3-1931


. Fernando Pessoa, Poesias. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p.133.


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