28/02/2010

A Taça de Chá, Almada Negreiros

Auto-retrato, 1927
Óleo s/tela, Colecção particular, Lisboa
A Taça de Chá

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caida nas esteiras bordadas. E os bambús ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com elle a advinharem-lhe o fim. Em róda tombávam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.
Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se:--Chorar não é remedio; só te peço que não me atraiçoes emquanto o meu corpo fôr quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardíns a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ella.
Pela manhã vinham os visinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús, e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.
A estampa do pires é igual.

Almada Negreiros, in 'Frisos ", Revista Orpheu nº1, Ano I - 1915.

Brinquedos de papel III.

Um dos brinquedos de papel que achava graça era o papagaio de papel. Na Figueira da Foz, que é uma praia ventosa, lançava o papagaio para ele voar. Não era muito eficiente e a criada andava sempre atrás de nós. Na escola aprendi a fazer um papagaio verde mas ele nunca voou.

Brinquedos de papel II.

Outro brinquedo de papel que recebi quando era pequena foi uma caixa de Origami para aprender a fazer várias figuras.


Brinquedos de papel I.

Théodore Géricault, Étude de pieds e de mains, 1818-19

Óleo sobre tela 52 x 64 cm, Musée Fabre de Montpelier, Montpelier, France

Eu ontem vi-te..., Ângelo de Lima

Eu ontem vi-te
Andava a luz
do teu olhar, que me seduz
a divagar
em torno de mim.
E então pedi-te,
não que me olhasses,
mas que afastasses,
um poucochinho,
do meu caminho,
um tal fulgor.
De medo, amor,
que me cegasse,
me deslumbrasse
fulgor assim.

Ângelo de Lima, retirado da net.

Quiet and Solitude

skies as they are
and mountains they change
and wilow and creepers
and anonymous trees
that converse with one another;
the gentle wandering wild
and migrant birds;
colours as they come
and a quiet home and solitude and peace;
clear air
and space round oneself where time and events abide at rest-
ah, these are ample for one

Raj Arumugam

Lacrimosa...

Jeong Sheon (1676-1759), Quietude e Solidão,
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«... a beleza da arte é geralmente incomunicável».
---
George Kubler (1990).


25/02/2010

O ser ou uma flor...

Thomas Cooper Gotch, (1854 - 1931) Death the Bride, 1895
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Oil on canvas
"O ser ou uma flor nascem em muitas direcções"


Fernando Guimarães in Algumas Palavras - Poesia Reunida, Lisboa: Quasi, 2008, p. 303.

23/02/2010

Um Colar para dois pescoços.- Dino Valls!

Ao passar pela Casa Improvável encontrei um pintor que desconhecia. Fiz então, uma viagem virtual e fiquei com uma ideia mais definida do pintor Dino Valls. Nasceu em Zaragoza, em 1959. Tirou a licenciatura em Medicina e dedicou-se à pintura. Vive em Madrid. Escolhi um quadro dele cuja influência radica na escola italiana e flamenga. Dino Valls estudou a técnica do ovo e tempera utilizada pelos pintores dos séculos XVI e XVII.

Dino Valls, Rorschach, 1991
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Temple de goma arábiga y óleo/ tabla 30 x 40 cm, Colección particular, Madrid

Um colar para dois pescoços é assim que eu intitulo esta tela que adorei.

17/02/2010

Claire de Lune - Paul Verlaine!


Claire de Lune

Votre âme est un paysage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Tristes sous leurs déguisements fantasques.
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Tout en chantant sur le mode mineur
L'amour vainqueur et la vie opportune
Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,
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Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d'extase les jets d'eau,
Les grands jets d'eau sveltes parmi les marbres.
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Ao piano Mária Kovalszki

Message Personnel!

Au bout du téléphone, il y a votre voix
Et il y a des mots que je ne dirai pas
Tous ces mots qui font peur quand ils ne font pas rire
Qui sont dans trop de films, de chansons et de livres
Je voudrais vous les dire
Et je voudrais les vivre
Je ne le ferai pas,
Je veux, je ne peux pas
Je suis seule à crever, et je sais où vous êtes
J'arrive, attendez-moi, nous allons nous connaître
Préparez votre temps, pour vous j'ai tout le mien
Je voudrais arriver, je reste, je me déteste
Je n'arriverai pas,
Je veux, je ne peux pas
Je devrais vous parler,
Je devrais arriver
Ou je devrais dormir
J'ai peur que tu sois sourd
J'ai peur que tu sois lâche
J'ai peur d'être indiscrète
Je ne peux pas vous dire que je t'aime peut-être


Mais si tu crois un jour que tu m'aimes
Ne crois pas que tes souvenirs me gênent
Et cours, cours jusqu'à perdre haleine
Viens me retrouver
Si tu crois un jour que tu m'aimes
Et si ce jour-là tu as de la peine
A trouver où tous ces chemins te mènent
Viens me retrouver
Si le dégoût de la vie vient en toi
Si la paresse de la vie
S'installe en toi
Pense à moi
Pense à moi

Mais si tu crois un jour que tu m'aimes
Ne le considère pas comme un problème
Et cours, cours jusqu'à perdre haleine
Viens me retrouver
Si tu crois un jour que tu m'aimes
N'attends pas un jour, pas une semaine
Car tu ne sais pas où la vie t'emmène
Viens me retrouver
Si le dégoût de la vie vient en toi
Si la paresse de la vie
S'installe en toi
Pense à moi
Pense à moi.

Mais si tu...


Melancolia...sonhos...

Georges Moustaki-Il y'avait un jardin

La Solitude - Moustaki

Georges Moustaki Ma Solitude 1966

16/02/2010

Flor para Alberto Caeiro - Menino Jesus



Para celebrar o centésimo post: o Menino Jesus de Alberto Caeiro


Poema do Menino Jesus


Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro

Lullaby, publicada no século XVII, música tradicional inglesa!

William-Adolphe Bouguereau - Lullaby (1875)
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Lavender's blue, dilly dilly, lavender's green,
When I am king, dilly, dilly, you shall be queen.
Who told you so, dilly, dilly, who told you so?
'Twas my own heart, dilly, dilly, that told me so.
Call up your men, dilly, dilly, set them to work
Some with a rake, dilly, dilly, some with a fork.
Some to make hay, dilly, dilly, some to thresh corn.
While you and I, dilly, dilly, keep ourselves warm.
Lavender's green, dilly, dilly, Lavender's blue,
If you love me, dilly, dilly, I will love you.
Let the birds sing, dilly, dilly, And the lambs play;
We shall be safe, dilly, dilly, out of harm's way.
I love to dance, dilly, dilly, I love to sing;
When I am queen, dilly, dilly, You'll be my king.
Who told me so, dilly, dilly, Who told me so?
I told myself, dilly, dilly, I told me so

William Shakespeare Soneto I


From fairest creatures we desire increase,

That thereby beauty's rose might never die,

But as the riper should by time decease,

His tender heir might bear his memory:

But thou contracted to thine own bright eyes,

Feed'st thy light's flame with self-substantial fuel,

Making a famine where abundance lies,

Thy self thy foe, to thy sweet self too cruel:

Thou that art now the world's fresh ornament,

And only herald to the gaudy spring,

Within thine own bud buriest thy content,

And tender churl mak'st waste in niggarding:

Pity the world, or else this glutton be,

To eat the world's due, by the grave and thee.

Homenagem Carlos Paredes

Carlos Paredes: Canto de Embalar, Concerto em Frankfurt


Blake retrato de Francis Bacon!

Francis Bacon, Study for Portrait II - after the Life Mask of William Blake, (1955)

Tate Britain, London

The Sick Rose - William Blake

The sick rose

O Rose thou art sick.
The invisible worm
That flies in the night
In the howling storm:
Has found out thy bed
Of crimson joy:
And his dark secret love
Does thy life destroy

Inverno

Jean-Pierre Denniss é um pintor canadiano
Jean-Pierre Denniss, Hiver Enveloppant

Bert Christensen's Cyberspace Gallery

14/02/2010

Romã


Romã suspensa,
no teu suco guardas o meu amor
escondendo-o da luz do dia
para à noite o poder amar.




Eu cantarei de amor tão docemente

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.

Luís de Camões

Entraste na casa do meu corpo


Entraste na casa do meu corpo,
desarrumaste as salas todas
e já não sei quem sou, onde estou.
O amor sabe. O amor é um pássaro cego
que nunca se perde no seu voo.

Casimiro de Brito, Na Via do Mestre, 2000

Sarah Mclachlan - I Love You

jacques Brel - La Chanson des Vieux Amants!

francoise hardy - peut etre que je t'aime

Valentine day!

Retirado da net.

Bom dia de S. Valentim!


POEMA DE AMOR PARA USO TÓPICO

Quero-te, como se fosses
a presa indiferente, a mais obscura
das amantes. Quero o teu rosto
de brancos cansaços, as tuas mãos
que hesitam, cada uma das palavras
que sem querer me deste. Quero
que me lembres e esqueças como eu
te lembro e esqueço: num fundo
a preto e branco, despida como
a neve matinal se despe da noite,
fria, luminosa,
voz incerta de rosa.

Nuno Júdice

06/02/2010

Elina Garanca - "Sol adoré de la patrie"Donizetti (Dom Sébastien)

Françoise Hardy - Mon Amie La Rose!

Emily Dickinson - Não sou ninguém!


Não sou Ninguém! Quem és tu?
Também – tu não és – Ninguém?
Somos um par – nada digas!
Banir-nos-iam – não sabes?

Mas que horrível – ser-se a Alguém!
Uma Rã que o dia todo –
Coaxa em público o nome
Para quem a admira – o Lodo.


Emily Dickinson, 80 poemas de Emily Dickinson, Lisboa: Edições 70 (tradutor Jorge de Sena)

Picasso e Teresa!

Já não passava por aqui há muito tempo. Abro o ano com Picasso, com Teresa e a coroa de flores.

Pablo Picasso - Marie-Therese Walter, 1937
Nunca gostei de águas separadas, nem de construir a casa em cima de uma fractura.

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