31/03/2012

Pedro I




Com o coro grego (personificado pelo povo) a peça Pedro I, de Manuel Poppe, solta-se do papel e transmuta-se, como o amor a Inês, em três dimensões.


Túmulos de Pedro e Inês, Mosteiro de Alcobaça


Cena X


1361 Passa o cortejo, mar de círios, que acompanha o cadáver de Inês, em esquife aberto. Exumado da sepultura original no Mosteiro Velho de Santa Clara, de Coimbra, vai a caminho do novo túmulo, mandado construir por Pedro I, no Mosteiro de Alcobaça. Pedro e o pajem assistem. Ouvem-se cantos religiosos, música, lamentos, rezas...etc.


Pedro - Vês, João? É a Rainha! Coroada depois de morta! Os que a perseguiram curvam-se, os que a amaram ajoelham e rezam!

Manuel Poppe, Pedro I, Lisboa: teorema, 2007, p. 67.


Andreas Scholl singing a 'Liebeslied' by the medieval composer Oswald von Wolkenstein (1376 or 1377 - 1445)

30/03/2012

Pior...



«Pior a emenda que o soneto»


Sabedoria popular






Moinho de vento,

Areias

"Toldam-se os ares, murcham-se as flores"

Inês de Castro e o eterno amor. Ontem estive com Inês. Lima de Freitas, Inês*




«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.

Mísero esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto
Já não é teu.

Sua alma pura
Nos Céus se encerra;
Triste da Terra,
Porque a perdeu.

Contra a cruenta
Raiva íerina,
Face divina
Não lhe valeu.

Tem roto o seio
Tesoiro oculto,
Bárbaro insulto
Se lhe atreveu.

De dor e espanto
No carro de oiro
O Númen loiro
Desfaleceu.

Aves sinistras
Aqui piaram
Lobos uivaram,
O chão tremeu.

Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.»

Bocage




Lima de Freitas, Até ao fim do Mundo, Pedro e Inês
*Retirado daqui.




Três Canções de Inês compostas por Reinaldo Miranda com poemas de Inês Cavalcanti. Interpretação de Manuelai Camargo; viola Cyro Delvizio

28/03/2012

Pessoanas III - numa simples caixa de areia: "Louco"

O último apontamento sobre a exposição na Gulbenkian, em torno de Fernando Pessoa intitulada Plural como o Universo, é para partilhar a surpresa que foi ver a escrita nascer numa caixa de areia como se fosse a maré a trazer as letras.

27/03/2012

A folha torna-se flor e a flor morre...

Jacques Tissot (1836-1902), Spring

Julgo que vi esta tela em primeira mão no blogue Memórias e Imagens de Margarida Elias.






A folha quando ama,
torna-se flor.
A flor torna-se fruto
quando adora.

Tagore, Aforismos, in
O Coração da Primavera, Braga: Editorial A. O.,1984, (trad.Manuel Simões), p. 105.

A Primavera é fecunda na Natureza e na escrita. Tagore fala na Primavera tecendo a poesia, misturando as palavras, juntando as letras, percepcionando o amor fugaz ou o amor eterno. Dizem que o amor é perfumado como as flores, a capa deste livro sugere-nos o cheiro do amor.

Da Livraria Lumière, um título a reter.

A Primavera e a morte um tema aparentemente inconciliável. Ontem vi o filme de Javier Fesser, Camino, uma película de 2008 que arrecadou seis prémios Goya no festival de San Sebastian.
A história baseia-se em factos reais: a morte de uma menina de 14 anos, Camino (Alexia González Barros em processo de canonização) com um cancro, cuja família estava ligada à Opus Dei.
O filme coloca imensas questões:
- Quem comanda o destino?
- Como é que alguém pode mudar o rumo dos acontecimentos levando a vida a passar ao lado do traço inicial?
- Como pode Deus deixar morrer quem não teve tempo de viver?
- Como aceitar uma morte antecipada?
- Porquê tanto infortúnio debaixo do mesmo tecto?
- O que é a religiosidade (fanatismo) e qual o contraste com o poder religioso?
O tema forte do filme é a realidade e o que se fabrica a partir dela. No final apareceu-me, teimosa, una furtiva lagrima. Faltou a Camino o trevo de Tagore.

25/03/2012

Tabucchi morreu na Primavera!

A vontade e o acaso levaram-me a transformar esta janela colocando um tom primaveril. Escolhi uma fotografia que tirei do castelo de Sant'Angelo em Roma. Há pouco soube que Antonio Tabucchi morreu. Hoje, o pássaro que se vislumbra a voar é Tabucchi.

A palavra, a nossa língua, é verdadeiramente a nossa pátria, dentro da qual nós vivemos, vivemos dentro desta linguagem, desta língua que é o nosso italiano, e se este invólucro que é a mesma coisa que placenta se rompesse não saberiamos mais nada....


Antonio Tabucchi (tradução livre)

Retirado daqui - http://youtu.be/G6UnhMu5z24



Em memória do homem que estudou e traduziu Fernando Pessoa.
Lacrimosa, Requiem de Mozart

Extinção II - Armanda Passos

Armanda Passos teve o condão de me fazer voltar à infância e foi uma viagem deliciosa. Gostei imenso das suas telas e das suas histórias. A pintora não esteve presente na inauguração mas Dr. Telo de Morais* sugeriu a sua ligação a Paula Rêgo. Não concordo de todo, talvez o Dr. Morais se refira à forma como a autora desenha as figuras, todavia, não vejo o traço de Paula Rêgo. Armanda Passos transmite, através do olhar das personagens, algo doce e provocador.


Exposição de Armanda Passos intitulada Extinção II foi inaugurada ontem (24 de Março) e vai ficar patente ao público até 19 de Maio no Museu Municipal de Coimbra, Edifício do Chiado.


Armanda Passos, Chimpanzé duas fotos possíveis.


Museu Municipal, Edifício Chiado, Coimbra


A tela do lado esquerdo intítula-se Chimpanzé e a do lado direito Arara


(170 x 200 cm)


A tela que mais me fascinou mas que não fotografei porque à sua frente estavam várias pessoas é Leopardo que para mim designo de a Máscara.

Armanda Passos, Leopardo (catálogo)



Armanda Passos fez-me recordar Mozart e Fantasia in D Minor, julgo que liga muito bem.




Actualizei o post às 13:00 h para direccionar um link biográfico da pintora e para agradecer ao João Menéres do Grifo Planante a dica para a exposição.


Muito grata João.

*Igualmente agradeço a Abreu de Sousa que desfez o meu engano. Post alterado às 18:43 h de dia 26 de Março.

23/03/2012

Luz e volume

V = T x L x A

O volume (V) é igual ao comprimento (T) vezes a largura (L) e vezes a altura (A).

Fernando Botero impõe o volume como apanágio da arte.

Será a escultura bela?
Para mim só o é se aproximar a lente focando a peça sem a ideia do todo.


O jogo de luz e sombra tornou a peça diferente.



O rosto expectante da mãe desafia o espaço.
Sentada com o filho no regaço o que procura no horizonte?

As linhas e as formas envolvem a criança de uma forma subtil aparentando ausência.

Mas é ilusão...

Uma mãe e um filho são o apontamento breve no Jardim de Amália, Lisboa.


Não conheço a música Colombiana mas lembro-me que os meus pais a ouviam. A escolha deve-se ao pintor Fernando Botero que é Colombiano.

O que estou a ouvir no Mezzo

21/03/2012

Fantasia para un Gentilhombre

Uma virtude se destaca
de todas as outras
a constante aspiração
ao superior, a luta consigo
próprio, o insaciável
desejo de mais pureza,
sabedoria, bondade e amor

Goethe
[pensamento encontrado numa livraria]



17/03/2012

“vietato morire" ou "Tudo tem o seu tempo"?

The Tree of Death and Life,1481. The Archbishop of Saltzburg's missal, Bayerische Staatsbibliothek




Giulio Cesare Fava, mayor de Falciano del Massico, cerca de 50 quilómetros de Nápoles, fez uma lei onde é "vietato morire" (proibido morrer).
Só a graciosidade italiana podia criar assim uma lei bellissima! Contraria o livro sapiental e poético do Antigo Testamento: Eclesiastes. Ah... como amo os italianos!




Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu:


tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo para plantar e tempo para arrancar o plantio,
tempo para matar e tempo para curar,
tempo para destruir e tempo para edificar,
tempo para chorar e tempo para rir,

tempo para se lamentar e tempo para dançar;
tempo para atirar pedras e tempo para as ajuntar,

tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço,
tempo para procurar e tempo para perder,

tempo para guardar e tempo para atirar fora,
tempo para rasgar e tempo para coser,

tempo para calar e tempo para falar,
tempo para amar e tempo para odiar,

tempo para guerra e tempo para paz.


Eclesiastes 3, 1-8


Modificado às 9:22h para transcrever a versão da Bíblia dos Capuchinhos.

16/03/2012

Sombras esculpidas

Auguste Rodin


Pedro e Inês

Brocados, rubis, linho, rendas jazem no chão.
A nudez branca sem nome agita-se numa dança carnal.
Dizem que é o rei,
mas as sombras esculpidas desenham apenas
um homem e uma mulher.








Auguste Rodin, Études de mouvements de danse semblent dater de 1910, Musée Rodin, Paris.


in Robert Descharnes et Jean-François Chabrun, Auguste Rodin (Lausanne, La Bibliothèque des Arts de Paris), Genéve, 1967.Auguste Rodin, p. 251.

Obrigada Cláudia, da Livraria Lumière, por me arranjar o belíssimo livro deste grande escultor.

14/03/2012

De regresso a Virgínia Woolf





[Orlando] Não defrontava apenas com os problemas que têm confundido os maiores sábios, como « Que é o amor? Que é a amizade? Que é a verdade?» - mas logo que pensava nisso, todo o seu passado, que lhe parecia tão longo e múltiplo, precipitara-se naquele segundo prestes a cair, dilatava-o até umas doze vezes o seu tamanho natural, coloria-o com mil cores e enchia-o com todos os resíduos do universo. Em tais pensamentos (ou como se queira chamar) empregou meses e anos da sua vida. Não seria exagero dizer que saía do almoço com trinta anos, e voltava para o jantar com cinquenta e cinco, pelo menos. Algumas semanas acrescentaram um século à sua idade; outras, não mais de três segundos, no máximo. Em suma, a tarefa de avaliar a extensão da vida humana (não nos atrevemos a falar nos animais) excede a nossa capacidade, pois tão depressa afirmamos que dura séculos, logo nos recordam que é mais breve que o cair de uma pétala de rosa.



Virgínia Woolf, Orlando, Lisboa: Livros do Brasil, sd., p. 69. (Introdução de Cecília Meireles)

Virgínia Woolf oferece-nos:
- Interrogações que são intemporais;
- A natureza humana em todas as acepções da palavra;
- A descrição pormenorizada do ambiente que cria;
- A beleza do silêncio e do ruído das personagens.

Em suma, lança-nos na angústia de mergulharmos ao mais íntimo de nós.

Virgínia Woolf foi uma proeminente figura do modernismo londrino. Nasceu ainda, durante o período vitoriano, em Londres a 25 de Janeiro de 1882.

Como aquariana, seguindo o livrinho que
uma amiga me ofereceu, podemos considerar a escritora: inteligente, com gosto pela inovação e pautando-se por um pensamento progressista.


Obrigada pelo livrinho que aumentou a minha colecção de mini-livros. :)


Horas, um filme maravilhoso de Stephen Daldry baseado no livro de Michael Cunningham e que foca a figura de Virgínia Woolf e o seu livro Mrs Dalloway, o primeiro livro que li da escritora.

12/03/2012

O Mergulho

David Oliveira ARCO, 2012

Intitulei este trabalho:

O mergulho
por vezes num vazio total de
tristeza,
desânimo
e solidão.

Apesar de caótico gostei deste desenho.

De um magnífico livro que li há uns tempos e retirado do blogue Sobre o Risco:

“O que é o homem senão uma alminha que suporta um cadáver?”

Malcolm Lowry, Debaixo do Vulcão, daqui


11/03/2012

Geometrismos antes da Primavera e Prémio

Dedico esta postagem a MJ Falcão do blogue O Falcão de Jade que tem um olhar belo sobre o mundo e a natureza. Grata pelo "selo" com que me agraciou.

A natureza fascina-me. Interrogo-me, como é possível tanta beleza, quietude e infinitude em tudo que nos rodeia?
Não me canso de a comparar com os estudos do mestre Leonardo da Vinci. Os choupos (álamos) têm a beleza de obedecer a uma ordem, isto é, não conhecem o caos!


Quais são os contornos visíveis das árvores vistas à distância sob o pano de fundo do céu? *
Leonardo da Vinci, desenho
* p. 160 e 161

Os contornos da ramagem das árvores, quando têm por fundo o céu iluminado, apresentam uma forma que, em termos proporcionais, quanto mais distantes estão, mais se aproxima do esférico; e quanto mais perto estão, menos se assemelham à forma estética, como sucede na primeira árvore, a qual, por estar perto do observador, exibe as formas da sua ramaria.
*Leonardo da Vinci, Os Apontamentos de Leonardo (org. H. Hanna Suh), Lisboa: Centralivros Lda., 2007, p. 160-161.

Dedico o selo, que está do lado direito desta janela, aos seguintes blogues, por ordem alfabética:

http://aarteemportugal.blogspot.com/
http://carlotapiresdacosta.blogspot.com/
http://chezgeorgesand.blogspot.com/
http://cozinhadosvurdons.blogspot.com/
http://aduplavidadev.blogspot.com/
http://falcaodejade.blogspot.com/
http://grifoplanante.blogspot.com/
http://ac-wwwinterioridade.blogspot.com/
http://livrarialumiere.blogspot.com/
http://mararavel.blogspot.com/
http://memoriasimagens.blogspot.com/
http://myra-parole.blogspot.com/
http://palavrasdaquiedali.blogspot.com/
http://presepiocomvistaparaocanal.blogspot.com/
http://sobreorisco.blogspot.com/

Para todos os que aqui não cabem também ofereço e estou grata pela visita!:)))

O prémio possui três regras:1 - Se aceitar, exibir a imagem.2 - Linkar o blogue do qual recebeu o prémio3 - Escolher 15 blogues para entregar o prémio Dardos.

10/03/2012

Do rosto ou das sombras, a beleza!

Conheci o pintor Paulo Damião através do Jornal das Letras. A atmosfera que cria nas telas parece emergir das brumas, onde se desenham traços do menos nítido ao mais perceptível pormenor como se de um zoom se tratasse. As tonalidades descritas nas telas representadas vêm do azul e do branco-sombra até ao ocre numa mistura de realidade e sonho. A delicadeza solta-se da pintura diáfana.

Porque pintas rostos?
Máscaras
virtuais ou reais?
Porque pintas rostos
se não estás retratada?
Porque pintas nas paredes nuas as impressões
tristes das tuas memórias gastas?




Paulo Damião, A Sombra dos Álamos, 2012


Paulo Damião, O vidro-espelho Imagens daqui

08/03/2012

De mulheres para a mulher

Myra Landau, Écoute (la vie)



CATARINA EUFÉMIA

O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente

Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos

Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua

Sophia de Mello Breyner Anderson, Dual, Lisboa: Salamandra, 1986


Paula Rêgo, Festa, 2002


Retrato de Mulher Triste

Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Cecília Meireles, in Poemas (1942-1959)


Graça Morais, sem título,
[segredos]
Maria das Quimeras

Maria das Quimeras me chamou
Alguém. Pelos castelos que eu ergui
P'las flores d'oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.

Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh'alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh'alma, Alguém, tudo levou!

Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores d'oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?

Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?...
Aonde estão os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?...

Florbela Espanca, Livro de Sóror Saudade, Lisboa: Tipografia A Americana, 1923.




Um filme delicioso: 8 Mulheres de François Ozon, 2002

06/03/2012

"Nossos corpos agora estão feridos"

Uma tarde com Manuel Alegre, o poeta, o político mas acima de tudo o homem que é.

As palavras que se focaram: liberdade de expressão, democracia e justiça social. Em suma, encontrámos humanidade. Apesar do poema falar de amor hoje o verso que serviu de título podia ser fruto da realidade que vivemos.

Manuel Alegre

Leitura de um poema sobre o mar e o povo português.


Desenhos de João Cutileiro

(p. 7 do livro indicado)


"Trovas do Tempo que Passa"-letra de Manuel Alegre
"Fado" - letra de Manuel Alegre

04/03/2012

National Geographic - será a "princesa" de Leonardo da Vinci?

Um retrato a giz e tinta sobre velino foi a leilão na Christie's em 1998. Do retrato nada se sabia. A sua classificação descrevia uma obra alemã do século XIX, influenciada pelo estilo renascentista. O coleccionador Peter Silvermann 10 anos depois comprou o retrato na galeria de Kate Ganz em Nova Iorque.


O coleccionador punha como hipótese o retrato datar do Renascimento. Enviou uma cópia digitalizada a Martin Kemp, um especialista de Da Vinci, professor jubilado de História de Arte da Universidade de Oxford.
Fizeram-se exames multiespectrais de alta resolução por Pascal Cotte, da empresa Lumière Technology, de Paris. O especialista não afasta a hipótese de ser realmente um desenho de Leonardo da Vinci. Tudo no retrato o levava a tal conclusão: o toucado, as cores e o sombreado. O velino foi datado através de radiocarbono, sendo a sua origem estabelecida entre 1440 e 1650.


O modelo do vestuário pertencia à corte milanesa da década de 1490. Da Vinci viveu em Milão durante este período. A investigação de Martin Kemp conduziu-o ao nome de Bianca Sforza, filha ilegítima do duque de Milão, que se casou em 1496 com Galeazzo Sanseverino, comandante das tropas milanesas e patrono de Da Vinci. Bianca tinha 13 ou 14 anos quando foi retratada.


Martin Kemp apelidou o desenho de "La Bella Principessa". Alguns especialistas de Leonardo concordam com Martin outros mostram-se mais cépticos. Fizeram-se comparações com os três retratos: Cecília Gallerani, a Dama com Arminho, Mona Lisa e Ginevra de' Benci produzidos pelo pintor, como se pode ver na imagem, mas nada é conclusivo.
Edward Wright professor jubilado de História de Arte na Universidade do Sul da Florida, especialista em iconografia apresentou a hipótese de que a resposta estaria na Biblioteca Nacional de Varsóvia, no interior do livro Sforziad, um volume de luxo, comemorativo do casamento de Bianca Sforza.
Uma bolsa da National Geographic Society levou Kemp e Pascal até Varsóvia. O último, através de uma macrografia, revelou que um fólio fora retirado do livro mencionado, provavelmente, no século XVII ou XVIII quando este foi reencardenado. O livro terá ido para a Polónia no início do século XVI, quando um membro da família Sforza se casou com um representante da realeza polaca.
Será o desenho de Bianca de Leonardo da Vinci?


Nada ficou provado, a dúvida mantém-se até novas conclusões.

Os elementos apresentados basearam-se na leitura do artigo Leonardo da Vinci: "La Bella Principessa" da Revista National Geographic Portugal, Março de 2012, vol. 11, nº 132., p.2 a 8.




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