29/07/2015

"Robaiyat?"

Em tempo de reclusão a leitura é um bálsamo. O livro que ando a ler:




Afinal o que é um robayat?

Rubayat  foi o título dado por Edward Fitzgerald à selecção de poemas atribuídos a Omar Khayyam  (1048-1131)   e traduzidos da escrita persa. Omar foi um filósofo, astrónomo e matemático, enfim, um sábio.
Um ruba'i é uma estrofe de duas linhas, com duas partes cada, daí o nome Rubaiyat (quarteto) que provém da palavra "quatro" em árabe.
A poesia de Rubaiyat ou Ruba'iyat canta a existência humana, a brevidade da vida, o êxtase e o amor. Omar Khayyam desenvolveu o êxtase do vinho como transcendência do homem. O poeta inglês Edward Fitzgerald foi o responsável por tornar conhecido o Rubaiyat, ao traduzi-lo e ao publica-lo em 1859.                                                                                                                    *Legenda no  final
Fernando Pessoa foi influenciado pelos Rubaiyat do iraniano Omar Khayyam o qual leu através da tradução inglesa de Edward Fitzgerald. Existe um volume na sua biblioteca particular, na Casa Fernando Pessoa. «Este exemplar, publicado em Leipzig, em 1928, é de grande interesse para os estudiosos pessoanos, pois está sublinhado e anotado a lápis pelo poeta, contendo ainda inscritos alguns "rubai" da sua autoria. Fernando Pessoa compôs também o seu Rubaiyat, "Canções de Beber" inspiradas no poema homónimo de Omar Khayyam. Em vida, Fernando Pessoa publicou apenas três "rubai", com o título "Rubaiyat", no último número da revista Contemporânea, dirigida pelo seu amigo José Pacheco, em Julho de 1926 (p. 98)» (Wikipédia)

Fonte Wikipédia: 
Rubaiyat, Omar Khayyam. Clássicos do Oriente. Editora EKO, 2007.
Márcia Manir Miguel Feitosa, Fernando Pessoa e Omar Khayyam: o Ruba'iyat na poesia portuguesa do século XX, Márcia Manir Miguel Feitosa. São Paulo: Giordano, 1998.

Uma cópia do exemplar do Rubaiyat em Inglês, que pertenceu a Fernando Pessoa, pode ser descarregada da Biblioteca Digital da Casa Fernando Pessoa.
Compemporanea, 3.ª série, n.º 3, Julho - Outubro de 1926.
Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal:
Rubaiyat: odes ao vinho, Omar Khayyam, versão de E.M. de Melo e Castro. Lisboa: Moraes. 1970.
Rubaiyat, "Odes ao vinho", Omar Khayyam, versão de Fernando Couto, pref. E. M. de Melo e Castro. Lisboa: Moraes, 1982.
Rubaiyat: odes ao vinho, Omar Khayyam, trad. Fernando Castro, pref. E. M. de Melo e Castro. Lisboa: Estampa, 1990.
Rubaiyat: odes ao vinho, Omar Khayyam, trad. Fernando Castro, 3.a ed. Lisboa: Estampa, 1999.
Rubaiyat: celebração da vida, Omar Khayyam, trad. A. César Rodrigues. Queluz: Coisas de Ler, 2002.
Rubá'iyat, Umar-I Khayyãm, apres. Maria Aliete Galhoz, selec., trad. e notas Halima Naimova, rev. António Lampreia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009.


*Página de um manuscrito do Rubaiyat de Omar Khayyam. Caligrafia e ornamentação de William Morris, ilustração de Edward Burne-Jones.



24/07/2015

O cinzento urbano

Por vezes a cidade é triste.




O Mapa


Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(É nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...


Mário Quintana, in Apontamentos de História Sobrenatural


22/07/2015

Experiências a evitar...

Histórias da janela para dentro

III Festival do Croché Social, Coimbra (4 de Julho a 31 de Agosto)

Umas ameixas pouco doces foram alvo de uma experiência que acabou por correr mal.

Coloquei no micro-ondas um prato com uma ameixa e respectiva tampa para fazer uma espécie de ameixa assada.
Ora esqueci-me de picar a casca e qual foi o resultado?

Uma ameixa desfeita que sujou todo o prato, a tampa e parte do micro-ondas. No entanto, devo dizer que o que restou no prato era saboroso.

Imagem daqui
Um dos primeiros bichos micro-ondas. :))

Aqui fica uma receita simples sem recurso a micro-ondas... Uma sugestão de Callas

Receita de Maria Callas - Gelato di frutta (alla pesca) Sorvete de fruta (de pêssego)
[receita transcrita por Ferruccio Mezzadri, mordomo de Maria Callas]

1,5 l de polpa de pêssego
50 g de açúcar; 1/2 limão.

Bata tudo no liquidificador e congele.

Segredos Culinários de Maria Callas, Histórias, Receitas e Sabores. (Prefácio de José Bento dos Santos, organização e apresentação Bruno Tosi) Lisboa: Assírio e Alvim, 2008,p. 123

Fotografia cortesia do Google, contudo, encontra-se na pág. 19 do livro citado.
Callas na cozinha da sua casa de Milão (1955)

Bom apetite com esta ária que me encanta:

20/07/2015

Adulterar

Paul Delvaux* (1897–1994), Details, The Great Sirens, 1947, Daqui e daqui

Detalhe

As sereias são eternamente belas,
não se deixam adulterar pelo tempo. 




*Paul Delvaux é um pintor belga ligado ao movimento surrealista.

18/07/2015

Degustação - O Senhor Bacalhau

Haquette_pêche en plein mer_1901
1. Georges Jean-Marie Haquette, Pêche en plein mer, 1903, daqui   




2. Clara Peeters, Still Life of Fish and Cat, after 1620, National Museum of Woman Arts, http://nmwa.org/works/still-life-fish-and-cat

                                                     2





Não existe amor mais sincero do que aquele pela comida,  Bernard Shaw.
Será?

Para mim são momentos felizes aqueles que partilho com amigos num bom jantar e com uma boa conversa. O vinho liberta um pouco a alma e a degustação liberta a imaginação.

Bacalhau com alheira no forno. Uma delícia do restaurante "O Solar do Bacalhau". 
O vinho que acompanhou o bacalhau foi Quinta do Cabriz 2013.


O Solar do Bacalhau - a montra, imagem de marca do restaurante.
O menu do restaurante é muito bom e tem o toque especial do cozinheiro Dinis, um jovem de 32 anos que é prodigioso na sua profissão.


Quente e frio com um toque diferente. Não consegui terminar a sobremesa mas é deliciosa.


As fotografias que se seguem foram retiradas do site do Museu Marítimo de Ílhavo.
http://www.museumaritimo.cm-ilhavo.pt/pages/3

O museu tem espólio da faina do bacalhau e de outras fainas na Ria, reúne também um espólio artístico considerável. Já visitei este museu mas não sei onde arquivei as fotos.  

Museu Marítimo de Ílhavo: Apresentação de livro, de Álvaro Garrido, A Epopeia do Bacalhau. Edição CTT - Correios de Portugal. 

O Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) é um museu da Câmara Municipal de Ílhavo. Nasceu a 8 de Agosto de 1937. O edifício novo foi inaugurado em  2001, foi renovado e ampliado, passando a habitar num edifício de arquitectura moderna projectado pelo gabinete ARX Portugal.
mmi-1.jpg

Aquário dos bacalhaus



16/07/2015

Peculiar herança





peculiar herança
que o tempo traz
ao perene viajante
inexplicável desejo
de seguir,,,,,,,,,,,,,,,

Myra Landau, Daqui

14/07/2015

Europa para onde vais?

Neste momento tenho vergonha de pertencer à Europa projectada.

Alexander Sigov,O Rapto da Europa
Alexander Sigov - Europa

https://www.pinterest.com/pin/406379566352381280/



13/07/2015

Passado e o Presente / a Imagem e as Palavras

À Myra, ao João e a José Pinheiro dou os parabéns pelo livro bonito que concretizaram
Ao receber o livro e após a sua leitura sentei-me a pensar: o que é que ele me trouxe, qual o seu impacto? Provocou-me? 
As minhas escolhas recaíram nas imagens e nos versos que apresento. 
Foram as imagens ou as palavras que ditaram a escolha? Foram ambas, contudo, a escrita teve importância, sim. O que me levou a lembrar o filme protagonizado por Juliette Binoche e Clive Owen: Falar de Amor. Nele conclui-se que nem é mais importante a imagem, nem a escrita mas a simbiose perfeita entre as duas. 

Os versos e as imagens que escolhi provocaram o meu sentido estético. Não pude deixar de ligar o presente ao passado, a imagem como reflexo da nossa visão sensitiva e cognitiva, o espelho como reflexo de um eu mais profundo e invisível. 
O PASSADO / PRESENTE, daí a escolha da tapeçaria A Dama e o Unicórnio (Visão) e o Banho, atribuído a Van Eyk, a presença do espelho como a consciência da alma para acompanhar o Reflexo.

REFLEXO
vertigem
queda sem fim
espelho de luz
confronto de mim

Myra Landau e João Menéres, Imagini, Edição www.qualquerideia.com, ( Introdução e textos de José Pinheiro) 2015, p. 17,18 e 19.


.            O banho ou a Toilette, Atribuído a Van Eyk
   https://en.wikipedia.org/wiki/Woman_Bathing_(van_Eyck)
Detalhe da tapeçaria Pastrana, A Dama e o Unicórnio, A visão, Museu de Cluny, Paris.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Lady_and_the_unicorn_Sight_det1.jpg


Nas imagens que se seguem vi a mulher, centro do amor e da arte. 
Myra escreveu: amar demais dói...amor amor... Escolhi a tela de António Ramalho por causa da cor do atelier onde o escultor cria a mulher/amor e ainda a Eva de Memling que está presente na fotografia e nos versos. A nudez sugerida representa o amor.

MULHER
eva que fora
era eu sem ser
seria ela
sem eu saber?

Myra Landau e João Menéres, Imagini, Edição www.qualquerideia.com, ( Introdução e textos de José Pinheiro) 2015, p.  33, 34 e 35

António Monteiro Ramalho, 
o escultor Alberto Nunes no seu atelier, 1887                      Hans Memling, Eva, c.1485

                      Museu José Malhoa, Caldas da Rainha                   Kunsthistorisches Museum, Viena


11/07/2015

Passeio de Domingo

Um passeio de Domingo com o mar ao fundo e a visita a dois museus

Foz do Arelho

Onde a terra acaba e o mar começa, Foz do Arelho

Henrique Medina, Madame Galli Curci no seu jardim, Califórnia, 1943, 
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha


Um chá no recanto do jardim, detalhe



O Museu José Malhoa reúne um importante espólio do Naturalismo Português, principalmente centrado na obra de José Malhoa (1855-1933), situa-se nas Caldas da Rainha terra natal do pintor. A ideia para edificação do museu nasceu em 1926 e foi inaugurado no dia de aniversário de Malhoa a 28 de Abril de 1934 (um ano após a sua morte), situando-se, então, na Casa dos Barcos no parque D. Carlos I. O projecto ficou concluído em 1937 e a inauguração do actual museu verificou-se em 1940. Os arquitectos foram Paulino Montês (1897-1962) e Eugénio Correia (1897-1985). «Em 1983 houve um novo projecto de ampliação, que não teve seguimento, e a mais recente intervenção de remodelação ficou a dever-se ao arquitecto João Santa Rita». DGPC
Já o tinha visitado há uns anos e regressar foi muito estimulante por causa do acervo quer da pintura, sua essência, quer do desenho, da escultura da cerâmica e medalhística. Nesta visita centrei-me essencialmente na pintura e na escultura que me interpelou e que comunga muito bem com as obras apresentadas. Acervo do Museu.



Cerâmica Rafael Bordalo Pinheiro,
Museu da Cerâmica, Caldas da Rainha.


O Museu da Cerâmica, Caldas da Rainha, entrada do museu

«O Museu da Cerâmica foi criado oficialmente em 1983, Encontra-se instalado no antigo Palacete do Visconde de Sacavém, no Avenal, mandado construir na década de 1890 pelo 2º Visconde de Sacavém, José Joaquim Pinto da Silva (1863-1928), colecionador, ceramista e importante mecenas dos cerâmicos caldenses.(...) O museu situa-se próximo da Fábrica Rafael Bordalo Pinheiro».
Retirado do panfleto do museu.
O edifício é uma delícia em pormenores como o da utilização da pedra, do azulejo, da cerâmica, das madeiras e do ferro forjado. A sua construção realiza-se numa época que gosto muito a da Arte Nova. 
Parte das traseiras, uma das entradas
O Edifício é constituído por um palacete tardo-romântico, que abriga a exposição permanente, e por um edifício secundário onde se situa a Sala de Exposições Temporárias, a Loja, a Olaria e o Centro de Documentação. Encontra-se rodeado por jardins com alamedas, canteiros, floreiras, lagos e um auditório ao ar livre, sendo de realçar a decoração profusa que ornamenta todo o conjunto e inclui azulejos do século XVI ao século XX, elementos arquitetónicos cerâmicos e estatuária. O acervo do Museu integra diversas coleções representativas da produção das Caldas da Rainha e de outros centros cerâmicos do país e do estrangeiro. As coleções compreendem peças da cerâmica antiga caldense dos séculos XVII e XVIII e núcleos da produção do século XIX e primeira metade do século XX. São de salientar os trabalhos da barrista Maria dos Cacos, autora de peças utilitárias antropomórficas, e de Manuel Mafra. Merece um especial destaque o núcleo de obras da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, um dos conjuntos mais representativos da produção do grande mestre da cerâmica caldense e que documenta a intensa laboração da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, entre 1884 e 1905. Apresentam-se também núcleos de faianças da Real Fábrica do Rato, de olaria tradicional e de produção local de escultura e miniatura dos séculos XIX e XX. Destaca-se, um núcleo de cerâmica contemporânea de autor, que inclui, entre outros, peças de Llorens Artigas, de Júlio Pomar e de Manuel Cargaleiro. O Museu possui ainda uma coleção de azulejaria que integra produção portuguesa, hispano-mourisca e holandesa do século XVI ao século XX, constituída por cerca de 1200 azulejos e 40 painéis. O Museu apresenta ainda uma coleção de 40 peças contemporâneas, ilustrativas de design e produção de cerâmica e vidro do século XX, que fazem parte de uma doação feita em 2007, constituída por 1205 peças.
Retirado da publicação do museu.

Detalhe das traseiras, uma das entradas

Entrada principal                                  gárgula

  Cozinha 

Uma das salas, sala maior                                                                    Pormenor  da sala    maior                               
Sala de entrada                                   Sala maior
Recanto na escada                                                Sala de exposição
Uma perspectiva das vistas do jardim

Termino com o poema de Afonso Lopes Vieira que está num dos muros do jardim.
Poema dedicado ao Orfeão de Condeixa de visita à casa a 12 de Setembro de 1915

Em suma, um dia bem passado.

09/07/2015

"O futuro"

De cabelos ao vento

Não sei se o homem tem o destino traçado, mas o berço em que se nasce é facilitador do seu destino. Será a audácia, a ventura, ou o acaso, o determinante? 
Pensamento que me ocorreu ao ler o trecho de Rachel Joyce.
O livro teve o condão de me transportar à infância/adolescência. O bizarro que envolve o tempo roubado prende-nos à leitura.

Rachel Joyce escreveu argumentos para a rádio, televisão e teatro. Recebeu o National Book Award com o livro A improvável viagem de Harold Fry, em 2012. É o primeiro livro que leio da autora e escolhi-o por causa do título fabuloso: O Bizarro Incidente do Tempo Roubado. A capa do livro também é muito bonita.
Imagem da capa.

«Um romance empolgante sobre as restrições esmagadoras que uma classe social pode impor, o fardo das expectativas dos pais e o estigma ligado às doenças mentais.»
The Independent.

James Lowe e Byron Hemmings frequentavam a Winston House School porque era privada. Havia outra escola mais perto, mas não era privada; era para toda a gente. Os miúdos que frequentavam essa escola vinham do bairro social de Digby Road. Das janelas de cima do autocarro, atiravam cascas de laranja e beatas de cigarro aos rapazes da Winston House.  Os rapazes de Winston House não iam de autocarro. As mães é que os levavam de carro porque a distância ainda era grande.
        O futuro dos rapazes da Winston House estava traçado. A história deles tinha um princípio, um meio e um fim. No ano seguinte, fariam o exame de admissão à escola secundária. Os rapazes mais inteligentes ganhavam bolsas de estudo e, aos treze anos, iriam para escolas internas. Falariam com a pronúncia certa e aprenderiam as coisas certas e conheceriam as pessoas certas. Depois viria Oxford ou Cambridge. Os pais de James estavam a pensar em St. Peter's; os de Byron em Oriel. Seguiriam carreira em Direito ou na City, na Igreja ou nas Forças Armadas, exatamente como os pais. Um dia teriam um apartamento em Londres e espaçosas casas de campo onde passariam fins de semanas com as mulheres e os filhos.

Rachel Joyce, O Bizarro Incidente do tempo Roubado. Porto: Porto Editora, 2015, p. 15.

07/07/2015

A uma mulher com garra

Maria Barroso, fotografia de Rui Gaudêncio, no Público



Homenagem a Maria Barroso - ver a partir do minuto 28.


Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen na voz de Maria Barroso



Carta aos amigos mortos

Eis que morrestes – agora já não bate
O vosso coração cujo bater
Dava ritmo e esperança ao meu viver
Agora estais perdidos para mim
– O olhar não atravessa esta distância –
Nem irei procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo escolhido para mim
Estar presente aqui onde estou viva.
Eu vos desejo a paz nesse caminho
Fora do mundo que respiro e vejo.
Porém aqui eu escolhi viver
Nada me resta senão olhar de frente
Neste país de dor e incerteza.
Aqui eu escolhi permanecer
Onde a visão é dura e mais difícil

Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela me ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna.

E eu vos peço por este amor cortado
Que vos lembreis de mim lá onde o amor
Já não pode morrer nem ser quebrado.
Que o vosso coração que já não bate
O tempo denso de sangue e de saudade
Mas vive a perfeição da claridade
Se compadeça de mim e de meu pranto
Se compadeça de mim e do meu canto.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto [Cortesia do Google]

06/07/2015

Palavras versus Imagens

Vale um mais um homem pelas suas palavras,
ou uma mulher mais do que as suas imagens?

Words and Pictures, Por Falar de Amor, é um filme de Fred Schepisi, interpretado por Juliette Binoche e Clive Owen.

Um filme não é apenas um filme. W and P relata um romance/drama/comédia que nos oferece muito mais que uma história de amor, ele retrata:
a arte e o seu sentido.
Aliás reparem no título original do filme.

Juliette Binoche pintou as telas que surgem no filme, é amante de arte e teve lições de pintura na sua juventude. A inspiração para as telas vêm da artista Fabienne Verdier, à direita. 
A actriz revelou o seu profissionalismo e a sua sensibilidade. Parabéns Juliette Binoche.

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