30/06/2010

Mozart concerto para flauta e harpa.

Memórias de Salzburgo no blogue Etnografia de Circunstância (s) levaram-me a Mozart e ao concerto para flauta e harpa em C major
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A harmonia dos bons espíritos encontram-se. Há que beber do belo, esquecer a maldade ácida de quem não gosta de ver os outros a crescer.
... Crescer por vezes dói.
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x Wolfgang Amadeus Mozart , Flute and Harp Concerto in C

Vento leve

Sandro Botticelli, Details, Return of Judith to Bethulia

Oli and tempera 31x 24 cm Galleria degli Uffizi, Florença
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Apenas chegou um vento leve nesta madrugada quente
vinha carregado de vazio.

29/06/2010

Hieronymus Bosch.

Bosch e o realismo das personagens. Nesta cena da paixão, Bosch tem uma atitude crítica revelada no contraste entre a apresentação de um Cristo sereno com as personagens grotescas que ladeiam a cena. No centro do quadro está Cristo que carrega a cruz, acompanhado de Santa Verónica, os dois únicos personagens que aparentam distância e calma. Este desequilíbrio tem como objectivo mostar a acumulação do mal, os vícios, a luxúria e as paixões dos homens que condenaram Cristo.
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Detail, Christ Carrying the Cross

Hieronymus Bosch, Christ Carrying the Cross c. 1490

Oil on panel 76.7 x 83.5 cm - Musee des Beaux-Arts, Ghent

Hieronymus Bosch (Jeroen Anthoniszoon van Aken, c. 1450-1516) é um pintor complexo tal como Pieter Bruegel, o Velho que postei um dia destes. A profusão de personagens, as expressões simbólicas de cada uma tornam os seus quadros enigmáticos e requerem muitas horas de estudo.

Bosch viveu e trabalhou em 'sHertogenbosch, (Bois-le Duc), Holanda, local de onde retirou o seu nome. A cidade onde viveu era uma das quatro maiores cidades do ducado de Brabante que pertencia aos duques de Borgonha.

Notas retiradas de Walter Bosing, Hieronymus Bosch Entre o Céu e o Inferno, Taschen, 2001, p.76-78.

S. Pedro e S. Paulo!

Michelangelo Merisi Caravaggio é um pintor barroco que gosto imenso. Nas pinturas sacras ele dá ao espectador a beleza, a dor, o sacrifício ou o êxtase que procurou colocar nas personagens. Vejam-se estes S. Pedro e S. Paulo. Bom dia sob a égide destes dois santos.

Caravaggio, Martírio de S. Pedro, 1601




Caravaggio Conversão de S. Paulo a Caminho de Damasco.

Capela Cerasi, Igreja de Santa Maria del Popolo, Roma

Poema para uma rosa em árvore

"Vai ver outra vez as rosas. Compreenderás que a tua é única no mundo. Quando voltares para me dizeres adeus, faço-te presente de um segredo.
O principezinho foi ver outra vez as rosas. (...)
Vós sois belas, mas vazias, disse-lhes mais. Ninguém vai morrer por vós. É certo que, quanto à minha rosa, qualquer vulgar transeunte julgará que ela se vos assemelha. Mas, sozinha, ela vale mais do que vós todas juntas, porque foi ela que eu reguei."


Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho

France Macdonald, Girl in a tree

France Macdonald era uma pintora escocesa ligada à Glasgow School of Arts. Os seus trabalhos inserem-se na corrente denominada Arte Nova. O naturalismo, o orientalismo e o gosto pela egiptologia são alguns do elementos caracterizadores.

28/06/2010

O meu gato ...

não me deixa trabalhar, deitou-se em cima dos livros com a cabecita no portátil ... fiz um intervalo.

Ele é uma pantera no meio da savana.

27/06/2010

My Pretty Rose Tree - William Blake.




A flower was offered to me,
Such a flower as May never bore;
But I said "I've a pretty rose tree,"
And I passed the sweet flower o'er.

Then I went to my pretty rose tree,
To tend her by day and by night;
But my rose turned away with jealousy,
And her thorns were my only delight


William Blake, My Pretty Rose Tree in Songs of Experience

A força das palavras.

Caixa de escrita japonesa (artefactos para a escrita).
Victoria & Albert Museum, Londres.

A força das palavras.
Olhando o mar que revolto bate no porto, vejo um conjunto de palavras. Letras. Códigos que não dizem nada. Estão desenhados no espaço, numa folha branca mais parecem um caractere. Ninguém os lê... está o sábio japonês sentado com a sua caixa de pintura, o pincel recostado na taça, a água acinzentada do preto em calmaria. Em frente o mar, o horizonte...

Bonsai no yorokobi o afure (a alegria transbordando do bonsai).

26/06/2010

A Queda dos Anjos Rebeldes- Pieter Bruegel, o Velho.

Gosto muito de Pieter Bruegel, O Velho. A Queda dos Anjos Rebeldes é uma das suas pinturas que me encantam. A luta entre o bem e o mal está povoada de demónios e monstros de um fértil imaginário.

Pieter Bruegel, o Velho, The Fall of the Rebel Angels. 1562.


Oil on panel, Royal Museum of Fine Arts, Antwerp, Belgium

O arcanjo Miguel representando ao centro da composição, com uma armadura castanho-dourada, expulsa do Céu os anjos rebeldes. Os anjos de túnica branca, combatem ao seu lado, os anjos caídos transformam-se, na maior parte, em corpos nus de híbridos imaginários.
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Rose-Marie e Rainer Hagen, Pieter Bruegel, o Velho, Camponeses, Loucos e Demónios, Taschen, 2004, p.40-41.

Vinheta 3 - As pessoas crescidas...

A vinheta que hoje coloco contempla Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupérye e o seu livro "O Principezinho".
Saint-Exupéry nasceu em Lyon, França, a 29 de Junho de 1900. Foi aviador durante a 2ª Guerra Mundial e notabilizou-se como escritor.
O Principezinho foi o sexto livro que publicou e data de 1943.

O filme foi realizado por Stanley Donen, em 1974, para saber mais clique aqui.



As pessoas crescidas têm sempre necessidade de explicações...
Nunca compreendem nada sozinhas e é fatigante para as crianças estarem sempre a dar explicações.
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(retirado do citador)

25/06/2010

A alegria é uma luz... Ícaro -1.

Marc Chagall, A queda de Ícaro, 1975.
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Óleo sobre tela 213 x 198 cm, Musée National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou, Paris, France.

A alegria é uma luz que se devora a si própria, inesgotavelmente:
é o sol no seu começo.

E. M. Cioran, Do Inconveniente de Ter Nascido, Lisboa: Livraria Letra Livre, 2010, p. 108

24/06/2010

O tempo, esse grande escultor...

O tempo, esse grande Escultor é um livro de ensaios de Marguerite Yourcenar sobre arte, história, cristianismo, natureza, pintura e reflexões sobre as civilizações orientais, os guerreiros japoneses e o erotismo da Índia medieval ou o budismo. Enfim, retrata os seus pensamentos sobre o passado e o presente onde a história é uma constante. Nele encontrei este trecho que deu o título ao livro.
Peguei na reflexão da autora e transpus para a nossa relação com o mundo, ou seja qualquer acto ligado ao nosso conhecimento. Então utilizei a escultura em sentido figurado para todos os actos que praticamos. O tempo esse escultor transforma a nossa visão, molda as nossas vontades, desejos, e influência a nossa criação. Marguerite Yourcenar define numa escultura o ciclo da vida: a construção da beleza, a admiração, a erosão, o desgaste e o regresso ao "estado mineral" do início.
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Esfínge encontrada em Spata, Ática, 570-550 a.C, Período Arcaico, Atenas

Museu Nacional de Arqueologia de Atenas, 2008, Grécia


No dia em que uma estátua é acabada, começa de certo modo, a sua vida. Fechou-se a primeira fase em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar-se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus de sucessivos de erosão e desgaste, até chegar pouco a pouco, ao estado de mineral informe a que seu escultor a tinha arrancado.

Marguerite Yourcenar, O Tempo esse grande Escultor, Lisboa: Difel, 2001, p.49

O céu tem muitas estrelas...

O céu tem muitas estrelas e eu não as encontro!


Vincent van Gogh,Starry Night, 1888

Oil on canvas, H. 72.5; W. 92 cm,Paris, Musée d'Orsay

23/06/2010

se existisse...

Pierre-Auguste Renoir, Etching, Sur la Plage, à Berneval, c. 1892


estou deitado sobre a minha ausência,
como poderia estar deitado se existisse.
amanhã as ondas imitar-me-ão na praia.

José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas, Vila Nova de Famalicão. Quasi, 2007, p.40

Bom S. João do Porto.

Bom S. João na companhia de dois homens do Norte!


Viagem ao passado na terra da música IV!

Simplesmente porque hoje ouvi Summertime no blogue Letras são Papéis e porque já não ouvia há uns tempos esta voz fabulosa!

Janis Joplin - Cry Baby!

22/06/2010

Midsummer Night's Dream!

Gosto muito desta peça de Shakespeare Sonho de uma Noite de Verão e da tela que Chagall pintou com esse tema.
Na música, Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847) compôs a Abertura Op. 61, Sonho de Uma Noite de Verão em 1826.
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Marc Chagall, Midsummer Night's Dream (Songe d'une nuit d'été). 1939.

Oil on canvas. 117.1 x 88.6 cm. Musée de Peinture at de Sculpture, Grenoble, France.


Oberon: Agora , até à alvorada,
Vá pela casa cada fada
A melhor noiva escolher,
Sua cama abençoar;
E o filho que nascer
Com tudo de bom fadar.

William Shakespeare, Midsummer Night's Dream in Shakespeare o teatro do mundo, Lisboa: Quimera, 2003, p.139, (trad.Fernanda Oliveira)


Choreographed by an artistic genius, George Balanchine, Shakespeare's comedy of magic and love's delusions set to the music of Felix Mendelssohn is a guaranteed audience pleaser. The Pacific Northwest Ballet displays all the vitality, brilliance and versatility of its wonderful dancers in this award--winning production of Balanchine's first original full-length ballet. (Informação retirada do youtube).

Da Admiração... ou Paixão!

Quando algo nos surpreende, admiramo-lo. Aconteceu com as flores caídas do céu, acontece quando conhecemos alguém que alimenta a nossa curiosidade e nos fortalece com a sua luz e sabedoria.
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Flores vindas do céu.
Londres, a caminho de Strafalgar Square, 2008.

ART. 53 - A admiração

Quando o primeiro contacto com qualquer objecto nos surpreende, e o julgamos novo ou muito diferente do que até então conhecíamos ou do que supunhamos que deveria ser, isso faz que o admiremos e nos surpreendamos com ele. E, isso pode acontecer sem que nada saibamos sobre a utilidade ou nocividade desse objecto, parece-me que a admiração é a primeira de todas as paixões, e não tem contrário, porque, se o objecto não tem em si nada que nos surpreenda, não somos afectados por ele, e consideramo-lo sem paixão.
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Descartes, As Paixões da Alma, Lisboa: Sá da Costa, 2008, p.116 (trad. e notas Newnton de Macedo)

A terra tem túmulos a mais!


A terra tem túmulos a mais

A terra tem túmulos a mais
Mas os teus olhos
Ressuscitam tudo

Tu e eu
Morreremos
De excesso de eternidade

Alberto de Lacerda, (da sequência Ariel e a Luz, in Oferenda II), Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994.

21/06/2010

7...7...7... Parabéns Selecção!



Portugal - 7 Coreia do Norte - 0

Bom Verão!

Desejo a todos que me visitam um bom Verão!
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Jean Ignace Isidore Gérard é um ilustrador e caricaturista francês. nasceu em Nancy em 1803.
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JJ Grandville's 'Les Fleurs Animées', 1847 {Volumes 1 & 2}
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'Narcisse' (Daffodil)

The delightful caprice of JJ Grandville's imaginative - and posthumously published - series of flower illustrations ensured that 'Les Fleurs Animées' was popularly received in 1847 and reissued and translated many times.

Para a Margarida que tem nome de flor e gosta de ilustrações.

Na sala deserta...

Tenho deveres para cumprir, vou ter que cumprir. Julgo que hoje começa o Verão mas aos meus olhos o Inverno instalou-se, chove ininterruptamente e o mar não me deixa atravessar o canal. Não entendo esta tempestade.

Mar Egeu, Grécia 2008

O bicho vai roendo o rodapé. Monótono e firme, na sala deserta, o ranger dos seus «dentes» desafia o relógio do meu coração, o maquinismo do meu cérebro. Detenho-me à escuta. Quem trabalha mais depressa? Quem anda mais depressa? No meio da noite, esse bizarro e diligente trio - e eu. eu deserta e tensa.
Horas mortas. Agora é o bicho da madeira. Outra ocasião foi o murmúrio do mar ou o trilo das cigarras. (...)
Assim as histórias vão nascendo. assim se vão desdobrando em folhas de livros.
Aqui é a sala do colégio. Lá o bangaló de férias na praia. «Porque escreve só de noite?» (...)
Pessoas que se cruzam, olhares que se trocam. Lembras-te? Parecias-te comigo Não sei bem em quê.Talvez na distância que respeitavas. Voltávamos uma curva. Perdemo-nos ao largo.

Maria Ondina Braga, Estátua de Sal, Lisboa: Editor José A. Ribeiro, 1983, p. 49-50.

Eros

XXIV

Eros
do Céu desceu em clâmide de púrpura...

Eugénio de Andrade, Poemas e Fragmentos de Safo, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1995, p.43


Londres, 2009

Silêncio.

O silêncio e o firmamento perpetuam o canto das sereias.
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Retirei daqui

20/06/2010

Morri pela Beleza! Emily Dickinson

A verdade. O que é a verdade? A minha, a tua ou a dele? O que é a verdade?
Só sei que já me magoei por querer viver com a verdade, o que ela é não sei.
Reflexão no início da tarde em que se homenageou Saramago no seu último acto.
Rosácea, Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra


Morri pela Beleza

Morri pela Beleza - mas mal me tinha
Acomodado à Campa
Quando Alguém que morreu pela Verdade,
Da Casa do lado -

Perguntou baixinho "Por que morreste?"
"Pela Beleza", respondi -
"E eu - pela Verdade - Ambas são iguais -
E nós também, somos Irmãos", disse Ele -

E assim, como parentes próximos, uma Noite -
Falámos de uma Casa para outra -
Até que o Musgo nos chegou aos lábios -
E cobriu - os nossos nomes -

Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"
Tradução de Nuno Júdice

19/06/2010

Eugénio de Andrade

Goa, 2008, onde o sol nasce primeiro.

XXXVII



...

Amo o esplendor. Para mim o desejo
é um sol magnificente e a beleza
coube-me em herança.

Eugénio de Andrade, Poemas e Fragmentos de Safo, Porto:Fundação Eugénio de Andrade, 1995, p. 56

A Infância. A adolescência...o sótão

Viagem pelas memórias. O sótão da minha infância está aqui retratado neste belíssimo trecho de Ondina Braga.
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Bonecas Egípcias, Museu Britânico, Londres

Londres, 2009
A infância. A adolescência.
Diz Rainer Maria Rilke: «Então vivemos tudo porque éramos imaturos: eu penso que experimentámos o horror em cheio (não sabíamos que era horror) e a alegria também (não sabíamos que havia tal coisa, era demasiado rica para os nossos corações) e talvez o amor total».
O sótão da velha casa tinha encantos únicos entre a poeira dos anos e o lixo dos objectos sem uso que para lá se arrumavam. Tão baixo o tecto da telha vã que era preciso dobrar o corpo para chegar ao fundo. Estremecíamos do rumor dos ratos, de terror, das sombras. Os cabelos toucados de teias de aranha. o coração pequenino. No pensamento, arrepiantes, os casos de espiritismo das conversas do Brasil.
E as trouxas dos farrapos com blusas de faille à moda o século passado? Se as vestíamos, rangiam a cada movimento como se vestíssemos papel. Raposas de pêlo traçado e melancólicos olhinhos de vidro. Luvas de pele de porco com botões frios de madrepérola.
Faziam-se bonecas de meias de seda, a cara redonda, rija de moinha.
Nos baús, os retratos. muito antigos, os das avós, bisavós, tios e tias da mãe.

Maria Ondina Braga, Estátua de Sal, Lisboa: Editor José A. Ribeiro, 1983, p.69.

18/06/2010

Vinheta 2 - Para Saramago!

A vinheta desta semana é em homenagem a Saramago por levar Portugal para lá das fronteiras.
A imagem é de Patrícia Mc Quade e quem ma deu a conhecer foi Ivan. Grata.
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"(...) ao contrário do que se julga e pôs a correr foi um botânico o autor da célebre frase, Uma rosa é uma rosa é uma rosa, um poeta teria dito apenas, Uma rosa, o resto caberia no silêncio de contemplá-la."

José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Lisboa: Editorial Caminho,1989.


Dulcineia

Quem tu és não importa, nem conheces
O sonho em que nasceu a tua face:
Cristal vazio e mudo.
Do sangue de Quixote te alimentas,
Da alma que nele morre é que recebes
A força de seres tudo.

José Saramago

Saramago!

Para Saramago.



Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
José Saramago

Encontrar...a inocência.

Albert Camus
Libertar-se de toda a preocupação de arte e de forma. Encontrar o contacto directo, sem intermediário, portanto a inocência. Esquecer a arte aqui é esquecer-me. Renunciar a si próprio não pela virtude. Pelo contrário, aceitar o seu inferno. Prefere-se aquele que quer ser melhor, prefere-se aquele que quer desfrutar. Somente, esse renuncia ao que é, ao seu eu, que aceita o que vem com as consequências. Esse encontra-se então em estado de captura directa.
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Albert Camus, O Primeiro Homem, Lisboa: Livros do Brasil, 1994, p.279

O Primeiro Homem.

Às vezes, um pequeno presente como um livro pode tornar-se um tesouro!
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Quando um livro não é propriedade mas o simples desejo de tocar o outro,
ele passa de mão em mão e aquece a alma de quem não o pode ter.
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«Toma é para ti », disse. Jacques recebeu um livro envolto em papel de embrulho e sem inscrição na capa. Mesmo antes de o abrir, sabia que era Les Croix de boix, o próprio exemplar que Monsieur Bernard lia na aula. «Não, não», respondeu. «É …»Queria dizer: é demasiado belo. Mas não encontrava as palavras convenientes. Monsieur Bernard abanou a sua velha cabeça. «Choraste no último dia, lembras-te? Desde então, este livro pertence-te».
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Albert Camus, O Primeiro Homem, Lisboa: Edição Livros do Brasil, 1994, p.141
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Da vida ou da morte o que importa?

Les croix de bois – 1931, Un film de Raymond Bernard,D’après le livre de Roland Dorgelés (Le livre de poche)

17/06/2010

Em torno de Mário de Sá-Carneiro, hoje, recordado na Casa Fernando Pessoa!

Depois de ver um post no Prosimetron

Adriana Calcanhoto - canta Mário de Sá-Carneiro.


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Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

Mário de Sá-Carneiro

16/06/2010

Entre o silêncio!

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra.

Entre o silêncio a luz.
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As palavras não fazem sentido
quando a beleza impera.

Bach - Cantata BWV 140 - Tenor: Peter Schreier - Sleepers wake Conductor: Karl Richte; Orchestra: Munich Bach Choir, Munich Bach Orchestra.

15/06/2010

Luz e sombra na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves


A actual Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves é a antiga casa do pintor José Malhoa que foi adquirida em 1932 pelo médico e doada ao Estado Português após a sua morte, em 1969.

O projecto da casa é do arquitecto Norte Júnior datado de 1904-05, foi mandada construir pelo pintor José Malhoa para casa de habitação e atelier de trabalho. A casa obteve o Prémio Valmor em 1905 e insere-se na arquitectura Arte Nova. São de particular interesse os azulejos (colocarei um dia destes), os vitrais, o ferro forjado do qual destaco o trabalho do portão que é uma borboleta.
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Ultimamente os meus pensamentos têm ido ao encontro da intersecção da luz e sombra. Daí que tenha escolhido dois vitrais da casa.

Vtral do atelier de José Malhoa, Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
Vitral da sala de jantar da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Paris, França -1905

Societé Artistique de Peinture sur Verre, ND des champs Paris

14/06/2010

Intersecções de luz!

Ábside (?) do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça

Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, entre arcos

No espaço sagrado intersecções de luz e sombra
lembram o silêncio!
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O silêncio, o grande silêncio, o voo incerto
a procura do vazio
e da plenitude:
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a leveza do espírito...luz oblíqua.

13/06/2010

Se Numa Noite de Inverno Um Viajante

A transitoriedade de um momento, viver não é isso afinal?
Voar...Voar...
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«Aperta o cinto. O avião está a aterrar. Voar é o contrário de viajar: atravessas uma descontinuidade do espaço, desapareces no vazio, aceitas não estar em parte alguma durante uns momentos que são também uma espécie de vazio no tempo; depois reapareces, num lugar e num instante sem relação com o onde e com o quando em que tinhas desaparecido. Entretanto o que é que fazes? Como ocupas esta tua ausência em relação ao mundo e do mundo em relação a ti?»
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Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno um Viajante, Lisboa: Vega, s.d. p. 193 (trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho e José de Vasconcelos)

Se...

Cúpula da Sé Nova, Coimbra
Se um pássaro me pudesse levar
eu queria espreitar a luz que vem da cúpula.

Santo António e Coimbra!

Tomada de hábito de Fernando de Bulhões (Frei António de Lisboa).


Fernando Martins de Bulhões nasceu em Lisboa por volta de 1195 (provavelmente não foi esta a data).
«É baptizado oito dias após o seu nascimento. Inicia a sua vida eclesiástica quando contava cerca de 7 ou 8 anos de idade, ao dar entrada na Catedral de St. Maria de Lisboa (se quisermos ser mais rigorosos, na escola anexa à Catedral). Aí iniciou o estudo de Leitura, Escrita, Cômputo, Gramática, Lógica, Retórica e Música". [...] Em 1209 ingressou no Mosteiro de S. Vicente de Fora (que se situava no exterior das muralhas de cidade de Lisboa). Tornou-se um Cónego Regrante de S. Agostinho. Era uma Ordem que tentava aliar a penitência, a meditação e a contemplação por uma lado, com a vocação pastoral dos seguidores de Cristo (dirigida principalmente para as populações urbanas). Em 1211 ou 1212 Fernando troca o Mosteiro de S. Vicente de Fora pelo Mosteiro de St. Cruz em Coimbra. [...]Enquanto está no poderoso e rico Mosteiro de St. Cruz, Fernando teve a oportunidade de travar conhecimento com alguns frades Menores (do "conventinho" de S. Antão dos Olivais) [...]
Fernando Bulhões decidiu tomar o hábito de S. Francisco quando em 1220 regressaram os restos mortais dos cinco mártires franciscanos: Berardo, Otão, Pedro, Acúrsio e Adjuto que tinham partido para Marrocos na tentativa de acabar com a perseguição que Miralmuminiom Abu Jacub exercia sobre os cristãos. Os cinco franciscanos estiveram no Conventinho de Santo Antão, nos Olivais».


Notas - retiradas de um panfleto da Comunidade Franciscana de Santo António dos Olivais em colaboração com a Casa Municipal da Cultura e do site da paróquia de santo António dos Olivais, Coimbra

Santo Antão e São Paulo Eremita!

Apesar de não ser o nosso Santo António desejo um bom dia de Santo António que hoje nos trouxe o sol de volta!
Gosto imenso desta pintura que é enigmática. O bosque, o centauro, a gruta, o eremitismo e o encontro entre os santos são para mim mistério.
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Stefano di Giovanni, conhecido como Sasseta, Encontro de Santo Antão e São Paulo, c. 1440
Santo Antão e São Paulo Eremita. Obrigada Margarida Elias
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National Gallery of Art, Washington
Image from Web Gallery of Art

12/06/2010

Para que todas as crianças tenham o direito de o ser!

Depois de visitar bibliofilia entre parêntesis e ver o clip sobre o trabalho infantil deixo:
The Little Prince, filme musical (1974) de Alan Jay Lerner e música de Frederick Loewe.
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Que o negro se dissipe e o azul seja mesmo azul...

11/06/2010

O Pavão

O pavão é uma ave linda mas também pode significar vaidade. "Pavoneia-se que nem um pavão" é um dito popular. Hoje, no meu caminho encontrei um pavão que abrilhantou um momento. Felizmente a rosa salvou esse momento.

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Annie French (1872-1965) The peacock and the rose

Pen and watercolour

Pavão Misterioso


Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...(2x)

Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...

Pavão misterioso
Meu pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...

Pavão misterioso
Meu pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda a cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo
Que não é certo ou não...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar...


Eles são muitos
Mas não podem voar!...

Ney Mato Grosso
Composição: Ednardo




Vinheta 1

Com as últimas águas partem as árvores
um sorriso é então todo o jardim.

Eugénio de Andrade, Escritos da Terra, p.21

Porque é que a Primavera não vem!

Adoro Oscar Wilde e todas as suas histórias infantis. O Gigante Egoísta ilustrado por Lisbeth Zweiger é lindíssimo. Emprestei o livro e não mo devolveram, o problema é que não me lembro a quem. O trecho que escolhi prende-se com a Primavera que não chega ao jardim do gigante como é o caso da nossa que persiste em adormecer. No caso do Gigante Egoísta foram as suas acções que a fizeram adormecer... e no nosso?
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"Then the Spring came, and all over the country there were little blossoms and little birds. Only in the garden of the Selfish Giant it was still Winter. The birds did not care to sing in it as there were no children, and the trees forgot to blossom. Once a beautiful flower put its head out from the grass, but when it saw the notice-board it was so sorry for the children that it slipped back into the ground again, and went off to sleep. The only people who were pleased were the Snow and the Frost. 'Spring has forgotten this garden,' they cried, 'so we will live here all the year round.' The Snow covered up the grass with her great white cloak, and the Frost painted all the trees silver. Then they invited the North Wind to stay with them, and he came. He was wrapped in furs, and he roared all day about the garden, and blew the chimney-pots down. 'This is a delightful spot,' he said, 'we must ask the Hail on a visit.' So the Hail came. [...]

Every day for three hours he rattled on the roof of the castle till he broke most of the slates, and then he ran round and round the garden as fast as he could go. He was dressed in grey, and his breath was like ice.
'I cannot understand why the Spring is so late in coming,' said the Selfish Giant, as he sat at the window and looked out at his cold white garden; 'I hope there will be a change in the weather.'
But the Spring never came, nor the Summer".

10/06/2010

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas!

Bom dia de Portugal ... escolhi uma écloga de Camões para homenagear o poeta, todos os heróis e não heróis deste pequeno país grande sonho português.
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xHieronymus Bosch, O Campo Tem Olhos, A Floresta Tem Orelhas

Pena e bistre, 20,2 x 12,7 cm, Staatliche Museen Preubischer Kulturbesitz, Kupferstichkabinett, Berlim

Ecloga V

Pastor Solo

XXXX

Já sobre hum seco ramo estava posto
o moucho com funesto, & triste canto:
Ao som delle o Pastor ergueo o rosto,
E vio a terra envolta em negro manto.
Quebrando entam o fio de seu gosto,
E o fio nam quebrando de seu pranto,
Por nam se descuidar de seu cuidado,
Levou para os curraes o manso gado.

Rimas Várias de Camões, (comentadas por Manuel Faria de Sousa), Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, [Edição Comemorativa], 1972, p. 277.

09/06/2010

In memoriam - Charles Dickens!

Faz hoje 140 anos que morreu Charles Dickens um autor que li na adolescência. Escolhi a obra David Cooperfield para o homenagear.
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"Nunca nos devemos envergonhar das nossas lágrimas"
Charles Dickens "Grandes Esperanças"
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Edição de 1849


"I am married". Etching
Hablot Knight Browne

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