31/12/2011

Feliz Ano Novo!

Castelo de Penela, 2011/2012




Fechar o ano velho numa arca.

Guardar a chave

para quando o quisermos revisitar.


FELIZ ANO NOVO!



30/12/2011

O espelho, a beleza... Balanços!

Acerca da beleza Oscar Wilde em O Retrato de Dorian Gray afirma: O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível...

Da beleza o que importa: é o que reflete o espelho? ou o que está do outro lado do espelho?



Montra junto ao Chiado

Thomas Mann vê deste modo a beleza:

A Beleza Maior é a que não se Vê
- Hoje, durante o meu passeio matinal, vi uma linda mulher... Meu Deus, que linda que ela era! (...)
- Sério, sr. Spinell? Descreva-ma então.
- Não, não posso! Dar-lhe-ia uma imagem imperfeita dela. Ao passar, mal a vi; na verdade, não a vi. Apercebi-me, porém, da sua sombra esfumada, e isso bastou para me excitar a imaginação e guardar dela uma imagem de beleza. Meu Deus, que linda imagem!
A mulher do sr. Klöterjahn sorriu.
- É essa a sua maneira de olhar para as mulheres bonitas, senhor Spinell?
- Sim, minha senhora, é; é muito melhor do que olhá-las fixamente na cara, com uma grosseira avidez da realidade, para no fim ficarmos com uma impressão falsa...
Thomas Mann, in "Tristão" (retirado do citador)

Pergunto eu:

- Qual deles está mais de acordo com a realidade?

Balanços de 2011.

29/12/2011

Placebo

Imagem retirada do Google a quem agradeço!

Na era digital onde não há espaço para o vinil ( a não ser para colecionadores) conheci Placebo uma banda que me agradou, pois a voz, a música e as letras são sempre pungentes.


É sempre bom ouvir um adeus... para não se estar sempre à espera.





(...)

The Doors

Imagem retirada do Google



Memórias, simples memórias

de um gira-discos portátil cor-de-rosa!




E um cover

27/12/2011

Palavras (apenas agradecer)

Agradeço a todos as palavras de esperança.


A companhia, sem relógios e sem tempos marcados.


O vislumbre das estrelas ou do céu azul reflectido no mar.


No mar que é nosso e nos liga a outros mundos: ao Ocidente e ao Oriente.


O mar que traz numa garrafa segredos e afectos.




O mar finisterra onde começa a promessa de novos futuros.


Um mar que não mata, nem rasga com as marés violentas
o sossego dos pássaros que acompanham os navios.


Um mar que é nosso,
sem falsas promessas,
sem homens que exijam e peçam o nosso sangue!
Um mar em que a partilha acabe com a solidão e faça da utopia uma palavra mais sólida...

apesar de nada saber do mar!


Fotografias do mar, Espinho.

21/12/2011

cultivar

A todos que me visitam, que comigo partilham as suas ideias, o seu sorriso e que contribuem para cultivar a minha subida à montanha, uma montanha verdejante onde o sol iluminará quando conseguir chegar ao topo, desejo um:


Feliz Natal


e um


Ano Novo repleto de projectos!


Corredoura, Tomar, 2009


Uma bola cheia de sonhos!

Vou partir por uns tempos mas levo-os comigo!

19/12/2011

Júlio Pomar

Júlio Pomar é um pintor com um longo percurso desde o neo-realismo ao expressionismo abstracto. Hoje lembrei-me dele e o título que poria à colagem representada seria:


Corpos em Harmonia


Júlio Pomar, L´Épure, 1977


Colagem e acrílico sobre tela, 100 x 100 cm. Colecção Joost van Odijk, Essene

18/12/2011

"A glória nocturna de ser grande não sendo nada!"

Quem verdadeiramente não quantifica o tempo são as pombas. Faço minhas as palavras de Bernardo Soares não somos: "nada". Quem deveras conhece a liberdade são elas...


A conversa das pombas, Praça da República, Tomar

Não se embaraçaram por as escutar.



... e do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros...
L. do D.

... e do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Mas o contraste não me esmaga — liberta-me; e a ironia que há nele é sangue meu. O que devera humilhar-me é a minha bandeira, que desfraldo; e o riso com que deveria rir de mim, é um clarim com que saúdo e gero uma alvorada em que me faço.
A glória nocturna de ser grande não sendo nada! A majestade sombria de esplendor desconhecido... E sinto, de repente, o sublime do monge no ermo, do eremita no retiro, inteirado da substância do Cristo nas pedras e nas cavernas do afastamento do mundo.
E na mesa do meu quarto sou menos reles, empregado e anónimo, escrevo palavras como a salvação da alma e douro-me do poente impossível de montes altos vastos e longínquos da […] estranha recebida por anel de renúncia em meu dedo evangélico, jóia parada do meu desdém estático.
s.d.


Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p. 41.

17/12/2011

"Tudo é transitório"

Rostos, Tomar




Tudo é transitório ou passageiro, tudo tem um princípio e um fim, dos universos às mais ínfimas partículas ou átomos.


Buda, retirado dos Pequenos Grandes Livros, Editores Ausência, 2002

Olhares cruzados, Tomar


16/12/2011

A Avó

Em memória da avó de quem tenho saudades.



Rembrandt van Rijn, (Details) Portrait of an Old Woman, 1654




Pushkin Museum of Fine Arts Moscow Russia


A Avó

Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando

Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela

Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro

Manuel António Pina, Os Livros, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 33




14/12/2011

Little Boxes

Vale a pena ouvir, ver, ler e pensar.


Little Boxes de Pete Seeger




Little Boxes

Little boxes on the hillside
Little boxes made of ticky tacky
Little boxes
Little boxes
Little boxes all the same
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same


And the people in the houses all go to the university
And they all get put in boxes, little boxes all the same
And there's doctors and there's lawyers
And business executives
And they're all made out of ticky tacky and they all look just the same
And they all play on the golf course and drink their martini dry
And they all have pretty children and the children go to school
And the children go to summer camp
And then to the university
And they all get put in boxes, and they all come out the same
And the boys go into business and marry and raise a family
And they all get put in boxes, little boxes all the same

There's a green one, and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same



Tem de haver mais para além de pequenas caixas onde nos enfiamos todos os dias!



Nenúfares bailam e não têm raízes fixas...

Jardim Botânico de Coimbra


13/12/2011

espelho sem narciso

Janelas,
reflexos,
espelho sem narciso.
Água,
terra,
fogo,
ar
contidos no azul
vidrado dos azulejos.
Nota traduzida pela paleta
como símbolo do que vai ser criado.
divagações ... olhares perdidos no céu!

12/12/2011

"o amor humano completou o esforço leve da Natureza"

Artur Loureiro, Ciganos, Roma



Museu Nacional Soares dos Reis, Porto


Para a Rainha dos Vurdóns e as cinco meninas um trecho de um escritor português que de certa forma aprendeu a ver o caminho debaixo das estrelas.

A minha gratidão.

CANTO IX

56



Árvores de fruto bem organizadas
mostram que o amor humano completou
o esforço leve da Natureza.
Laranjeiras carregadas desses frutos,
que na mão parecem perdoar os pecados do homem,
mostram-se numa invulgar proporção com o que escondem.
Árvores tímidas, mas que ensinam.
Uma das mulheres, por exemplo, pega numa laranja
e quase fica infantil.

Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Lisboa: Caminho, 2011, p. 367 (Prefácio de Eduardo Lourenço)

10/12/2011

Uma preocupação do homem: dormir

O sono,
o cansaço,
a saudade,
os acasos,
a preocupação
em salvar!

F. Hoffmann- La Roche & Cie, S.A., Basileia/Suíça, Secção Científica em Portugal
Às vezes queremos
salvar alguém de um sono letárgico mas quem dorme não recebe a mensagem, apenas dorme.

Na figura: "O rei Salomão dormindo num leito de aparato e rodeado de 60 guardas. Fixada ao baldaquim, uma lamparina. Extraído de o Jardim das Delícias do Herrade de Landsberg (1167-91), manuscrito alsaciano".


Um livro que reencontrei, num tempo diferente, numa livraria diferente e muito especial:
a Livraria Lumière que como o nome indica espalha a luz!

Um livro numa outra estação de comboio,
um reencontro menos doloroso.
Um livro cujo enfoque é dormir num cenário próprio em tempo preciso.


Dormir é bom, como gostava de dormir!


Este livro é uma brochura cuja documentação foi fornecida por F.K. Mathys, de Basileia, sd., para uma campanha médica. Para bem dormir conta a história da cama ao longo dos tempos desde os egípcios até ao século XX, acabando com a "casa" Roche e os comprimidos milagrosos para dormir.

09/12/2011

Pormenores!

A menina esculpida por Soares dos Reis tem um ar sonhador e embevecido ao olhar o cesto cheio das rosas que apanhou. Em especial para a Sandra de Presépio no Canal.


António Soares dos Reis, Viscondessa de Vinhó e Almedina, 1882



Detalhe 1 Detalhe 2

Detalhe 3 Detalhes 4

No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida.





Marguerite Yourcenar, O Tempo esse grande escultor, Lisboa: Difel, , 1983, p. 49


(trad. Helena Vaz da Silva)

08/12/2011

Maravilhada!

Do Porto, da Livraria Lumière trouxe estas miniaturas que a Cláudia encontrou. Muito obrigada!


Maravilhou-me.


"O livro é um mudo que fala, um surdo que responde,


um cego que guia, um morto que vive."


Padre António Vieira (retirado do citador)

Buda, Zaratrusta e Ali Babá e os 40 Ladrões


Medem 3,2 cm


Pormenor da escultura de Soares dos Reis, Viscondessa de Vinhó e Almedina, 1882,


Rosas para a Cláudia e a Alexandra


Museu Soares dos Reis, Porto

07/12/2011

"Problemas com a fé?"

Nos últimos tempos houve um filme que me tocou especialmente: Habemus Papam - Temos Papa, realizado por Nanni Moretti. O papel de Papa eleito foi executado com excelência por Michel Piccoli.


A leveza aparente de alguns momentos do filme, quanto a mim, embeleza mais a profundidade do tema. O novo príncipe da Igreja era sobretudo um homem com um passado controlado pelo meio familiar. A película levantou as seguintes questões:


Qual é o caminho a seguir? Porquê as pressões? Qual é a possibilidade de escolha?


Não pude deixar de relacionar este tema com umas telas que vi no Museu de Évora.


Escolhi a primeira pintura para retratar a citação registada:


«Soffro di deficit da accudimento, ma non ho capito cos'è»
(Sofro de défice parental, mas não sei o que é). *


Não consegui identificar o pintor nem o retratado mas está no Museu de Évora





A pintura que se segue para ilustrar:


«Senta,ha problemi con la fede? »
(Santidade tem problemas com a fé?)


Autor desconhecido, Anunciação, 2º quartel do século XVI, Museu de Évora



Por último uma das citações que mais me apaixonou foi:

«Il concetto di anima e quello di inconscio non possono coesistere.»
(O conceito de alma e de inconsciente não pode coexistir)

interliguei-a com o Arrependimento de Pedro

Autor desconhecido, O Arrependimento de S. Pedro, Escola Italiana, século XVII


Museu de Évora


* No filme o Papa eleito diz que quando era jovem queria ser actor. As citações foram retiradas de um site sobre cinema.

06/12/2011

(In)quietude

Convento de Cristo, Tomar
Era final da tarde,
no jardim já não havia rosas.
O banco estava vazio.
Fechei os olhos e vi no horizonte
uma estrela cadente.
Encheu-me de (in)quietude

04/12/2011

Destino

Espinho




O destino é viver
neste mar salgado,
onde o sol poente perde a cor
e a aurora nasce timidamente.
...
O destino é a espera ... e o silêncio!

03/12/2011

Um Natal antecipado - Mulheres de Pescadores!

O Natal chegou mais cedo para seis mulheres de pescadores de Caxinas (Vila do Conde) que viram resgatar do mar revolto os seus homens perdidos há três dias.
Há alegrias que nos fazem esquecer os dias nefastos e pensar que aquele Menino Jesus (Guardador de Rebanhos) de Alberto Caeiro afinal vai aparecendo.


Júlio Resende, Mulheres de Pescadores, 1951


Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, Lisboa



Quando regresso do mar venho sempre estonteado e cheio
de luz que me trespassa. Tomo então apontamentos rápidos – seis
linhas – um tipo – uma paisagem. Foi assim que coligi este livro,
juntando-lhe algumas páginas de memórias. Meia dúzia de
esboços afinal, que, como certos quadrinhos do ar livre, são
melhores quando ficam por acabar. Estas linhas de saudade
aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento. Torno
a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco
prolongado... Basta pegar num velho búzio para se perceber distintamente
a grande voz do mar. Criou-se com ele e guardou-a
para sempre. – Eu também nunca mais a esqueci...


Raul Brandão, Os Pescadores, 1923, p. 2


Nazaré, filme realizado por Manuel Guimarães, 1952.

01/12/2011

Sapatinhos vermelhos

Festejei o 1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência, (ano de 1640, fim do domínio filipino em Portugal), como faço sempre a vestir a casa de Natal.



Os sapatinhos vermelhos cantam as memórias de infância: as danças perdidas, a neve caída, o passeio à floresta luxuriante.

Um bibe, um gorro, casacos de fazenda de lã e um cestinho de verga para trazer as pedrinhas brancas que fariam os caminhos, os fetos que se transformariam em palmeiras, o azevinho que daria cor e o musgo que calafetaria o cenário. Tudo para montar o templo onde nasceria o Menino.


Era tudo tão simples, tão exacto: a alegria espontânea, a ânsia da festa que se aproximava e era tudo éfemero de ano para ano.
O Menino fugiu...
***


(...)

Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem

(...)

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade

Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

(...)
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?


Alberto Caeiro " O Guardador de Rebanhos", 1914



Onde está esse Menino, por que terras viaja? Porque é que se esqueceu desta Terra cujos rios correm em atropelo?
Continua efémero!


Já colocado há uns tempos mas sempre renovado nesta época do ano.

Recital de Harpa

Ontem assisti a um recital de harpa na Biblioteca Joanina. A beleza da música aliada aos livros e ao espaço cénico referido tornou a noite sublime!

Não tirei mais fotografias porque não gosto de incomodar os outros e porque, apesar de não utilizar flash, faz-me impressão.


Biblioteca Joanina (em especial para o Pedro)


Gymnopedie de Erik Satie foi uma das músicas executadas por Beatrix Scmidt (húngara, professora do Conservatório de Coimbra) e Salomé Matos (professora da classe de harpa da Fundação Amigos das Crianças).






«La musique, c’est du bruit qui pense. »



Victor Hugo (daqui)

30/11/2011

Um livro, uma surpresa...

Um livro, uma surpresa... que veio preencher o quarto vazio.

Porto, Janelas com azulejo - O quarto vazio




O livro

E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas: «Água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.

Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito
como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio*.


*Tchousang Tseu
Manuel António Pina, Os Livros, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 9.


28/11/2011

O caos nos livros

Cá em casa instalou-se o caos nos livros. Uns estão em pé, outros deitados, uns à vista, outros escondidos, não têm espaço para respirar!


Choram lamurientos porque não têm o lugar que merecem.

As estantes do outro lado sofrem do mesmo mal.


Alguns Tintins estão no chão a aguardar um espaço livre. Disse para mim que isto não pode continuar. Até 31 de Dezembro embora o tempo seja um dilema vou tratar dos meus/nossos livros. (A rolha é da minha gata)




O Livro


Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza.



Jorge Juís Borges, Obras Completas, 1975-1988, Vol. IV, "O Livro", Teorema, 1999, p. 171


Esta decisão foi tomada quando quis guardar um livrinho e encontrei outro com cinco peças Isabelinas: Five Elizabethan Tragedies, impresso em 1950 pela University Press, Oxford. Adquiri este livro num alfarrabista em Portobello Road quando visitei Londres. Estava perdido no meio de outros...

Uma imagem da obra impressa em 1560

27/11/2011

Fado é Património Imaterial da Humanidade!

Lisboa, Praça da Figueira


Soube há pouco esta novidade através do blogue "Presépio no Canal" (ver na barra do lado esquerdo). Parabéns a todos os que lutaram por este reconhecimento.



Personalidades que mais marcaram o fado:


Guitarrista Carlos Paredes, Balada de Coimbra




Amália Roderigues, Povo que Lavas no Rio




Alfredo Marceneiro, Viela




FADO PORTUGUÊS

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'
(Retirado do Citador)

Todos precisamos de ... (Fado 6)

Esta postagem é dedicada a todas as crianças do mundo e à Cozinha dos Vurdóns que fazem parte desta luta: levam crianças à escola para aprender e para reconhecerem as suas raízes. Também é a resposta a um Natal que andam a preparar na sua cozinha!



Todos precisamos de

Os meus cartões de Natal não vão ser personalizados como fazia até aqui. Fui buscar a estes meninos uns cartões de Natal.




Hermínia Silva "Fado da Cigana", no filme de 1949, "Ribatejo", de Henrique de Campos



"caminhos Ciganos na literatura Portuguesa"

João Braga canta e fez a música do fado "Ciganos", Pedro Homem de Mello escreveu o poema (1983).


26/11/2011

"Esse longo convívio com os livros ..." (Fado 5)

Angelo Bronzino, detalhe do Retrato de Laura Battiferri, mulher do escultor Bartolomeo Ammannati (1550/1555). A senhora tem na mão um "petrarchino" (O Cancioneiro de Petrarca), alusivo ao seu nome (Laura).


Collezione Loeser, Palazzo Vecchio, Florença


Esse longo convívio com os livros de toda a sorte ensinou-me alguma coisa sobre eles, creio eu, mas ensinou-me, principalmente, que em matéria de livros tudo quanto sei só serve para mostrar o quanto ignoro. Não há dia que não aprenda alguma coisa. É talvez por isso que não me canso de manuseá-los, de folheá-los, de lê-los e de falar deles.


Rubens Borba Moraes, O Bibliófilo Aprendiz, Lisboa:Letra Livre, 2011, p. 15


Pelo Fado - Fado de Coimbra, entre os estudos, o futuro e uma carreira, o amor




25/11/2011

"Com ela era «assim»". (Pelo Fado 4)

Há dias em que nos sentimos Outono...






Numa rua em que a árvore pereceu nasceram cogumelos!



Não chorava por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido outros modos de vida, aceitara que com ela era «assim». Mas também adivinhava creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir, havia existências mais delicadas e até um certo luxo da alma.

Clarice Lispector, A Hora da Estrela, Lisboa: Relógio d’Água, 2002p. 55-56.




Pelo Fado


A (minha) Diva do Fado


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