18/12/2011

"A glória nocturna de ser grande não sendo nada!"

Quem verdadeiramente não quantifica o tempo são as pombas. Faço minhas as palavras de Bernardo Soares não somos: "nada". Quem deveras conhece a liberdade são elas...


A conversa das pombas, Praça da República, Tomar

Não se embaraçaram por as escutar.



... e do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros...
L. do D.

... e do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Mas o contraste não me esmaga — liberta-me; e a ironia que há nele é sangue meu. O que devera humilhar-me é a minha bandeira, que desfraldo; e o riso com que deveria rir de mim, é um clarim com que saúdo e gero uma alvorada em que me faço.
A glória nocturna de ser grande não sendo nada! A majestade sombria de esplendor desconhecido... E sinto, de repente, o sublime do monge no ermo, do eremita no retiro, inteirado da substância do Cristo nas pedras e nas cavernas do afastamento do mundo.
E na mesa do meu quarto sou menos reles, empregado e anónimo, escrevo palavras como a salvação da alma e douro-me do poente impossível de montes altos vastos e longínquos da […] estranha recebida por anel de renúncia em meu dedo evangélico, jóia parada do meu desdém estático.
s.d.


Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p. 41.

8 comentários:

  1. São o que são, concordo com vc Ana. Deveríamos procurar canto semelhante, mas infelizmente ensinamos diferentes notas e isso dificulta a nossa liberdade. Quem sabe um dia...pombas. A inquietude nos ajuda na construção.

    bjs meus

    adorei o novo tom.

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  2. É bonito não é Ana? Imaginar a leveza dos pássaros. às vezes apetecia voar...
    Gostei do blog assim
    Bj

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  3. Cozinha dos Vurdóns,
    "A inquietude" o principal obstáculo para sermos verdadeiramente livres. Obrigada!
    Bjs 1 + 4 :)))))

    George Sand,
    É isso mesmo deveriamos ter a possibilidade de atingir a leveza!
    Obrigada.
    Bj. :)

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  4. Bonito.
    Também gostei do novo ar do blogue.
    Leve.
    Beijinhos

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  5. Quando vejo assim um monte de pombas recordo sempre o mesmo episódio, ana.
    Um bom amigo, hoje ilustre advogado em Coimbra, que levou uma cagadela na zona da Sé Velha quando íamos para a Faculdade.
    Cheirava tão mal!!!
    Teve de ir a casa mudar de roupa.
    E, no autocarro, ainda teve que suportar os olhares de reprovação dos outros passageiros :))
    Bjs e boa semana

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  6. Só a grandeza de carácter poderia evoca a sua própria pequenez, cara ana.

    (Tenho as melhores recordações de visitas a Tomar e é bom revê-la por aqui)

    Um abraço.

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  7. Pedro,
    Uma história anedótica e que pode acontecer a qualquer um. Fez-me lembrar António Aleixo. :)))
    Bjs.

    R,
    Obrigada!
    Quem assume a pequenez, é porque olha de mais alto e pode ver a profundidade do ser! :)
    Um abraço!

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  8. Isabel,
    Só agora reparei que não te respondi, mas dizem que os últimos são os primeiros.
    Sabes como adoro pombos, andorinhas, pássaros... porque eles conhecem a verdadeira liberdade!
    Bjs. :)

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