28/02/2013

Itália de Myra

Roubei estas asas (como o intitulei) a Myra que viveu, entre outros países, em Itália .
Nesta beleza vi duas asas. Asas sobre a Basílica de S. Pedro. O voo de Bento XVI para o silêncio, um silêncio escolhido conscientemente pela fragilidade do corpo mas não da alma. Não sei bem como é este caminho... mas sei que há beleza e música nesta partida.

Myra, Itália


Basílica de São Pedro vista do castelo de Sant' Angelo




26/02/2013

"A perfect circle" e Bartolomeu Cid dos Santos

Helena Armond, sem título, 1985, Museu José Malhoa, daqui.









«If some lives form a perfect circle, others take shape in ways we cannot predict or always understand. Loss has been a part of my journey». 

Therese Osborne in Message in a Bottle

E porque soube que a Galeria 111, no Porto, vai fazer uma retrospetiva da obra de Bartolomeu Cid dos Santos [inaugura a 2 de Março de 2013] eis aqui um círculo perfeito:
Bartlomeu Cid, Cidade Submersa, daqui


23/02/2013

Igreja de Santa Maria da Vitória

Igreja de Santa Maria da Vitória, Mosteiro da Batalha, 
Batalha.


Por vezes o silêncio é de ouro, outras é insuportável.

Hoje de manhã saí muito cedo
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre —
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

Alberto Caeiro. 13-6-1930

Alberto Caieiro, “Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993), p. 100.


22/02/2013

Indignação

"Indignação"  teve o condão de me apaziguar com o escritor Philip Roth. 
A narrativa tem como protagonista o jovem Marcus Messner, estudante universitário. 
Os desafios que tem que enfrentar, as convicções que quer defender, as descobertas que prima em valorizar, o ambiente social e intelectual académico ao qual tem de se adaptar tornam a personagem vulnerável e complexa.



«Em todas as universidades há sempre um ou dois jovens intelectualmente precoces, membros autoproclamados de uma intelligentsia de elite que têm necessidade de se promover (...)».

Philipe Roth, Indignação. Lisboa: D. Quixote, 2009, p. 88. (tradução Francisco Agarez)


Será a indignação o elixir da juventude? 

20/02/2013

Nevoeiro

Chove, chove, chove... 
A acompanhar a natureza andam os nossos governantes que se vestem de um cinzentismo negro. A desumanidade trajada por este governo levou a ouvir-se no Parlamento a canção: Grândola Vila Morena que interrompeu o discurso do Primeiro Ministro, Passos Coelho. 
José Gil (filósofo) interpretou esse ato da seguinte forma:
Manifesta «o desejo de uma utopia prometida e nunca concretizada» (TSF). Será?

Simbolicamente o nevoeiro é associado a «um estado entre o real e o irreal»*.
Prefiro o nevoeiro à chuva porque após este vem a luz prometida do Sol, nosso astro maior.

 Hiroshi Senju, Floresta (2001), pintura japonesa com 79 metros de comprimento.

Hiroshi Senju, perspetiva de uma parte da Floresta.

Embora as águas límpidas abranjam o vasto
céu azul de Outono,
Como se podem elas comparar com a lua
enevoada numa noite de Primavera!
A maioria das pessoas quer a limpidez pura,
Mas por mais que se varra, não se consegue
esvaziar a mente.
Maezumi, iii

Hakuyu Taizan Maezumi, "The Hasy Moon of Enlightement: On Zen Practice III", L.A. ,1977, in Livro dos Símbolos, Reflexões sobre Imagens Arquetípicas, da Taschen, editor Katthleen Martin, 2012, p. 76.

*Hans Biedermann in, Dictionary of Symbolism, NY, 1994. Citação retirada do livro acima referido.


Hiroshi Senju nasceu em 1958, em Tóquio, no Japão. É professor da Universidade de Arte e Design de  Kioto, onde se doutorou no programa Fine Arts, em 1987. Em 1995 recebeu uma menção honrosa na quadragésima sexta Bienal de Veneza e outros prémios noutras cidades italianas, nos Estados Unidos e no Japão. Sobre Hiroshi Senju consulte-se o link assinalado.

18/02/2013

Camélias

Camélias
[Uma camélia nua...]

Hoje, que a noite, em húmida toalha,
Comprime a vossa fronte, cegamente,
Aquela chuva fina que vos anavalha
Chega, até mim, numa canção dolente!

Encontro, nela, a música do amor
Com que se esquece, quase, a morte e o medo.
Miséria alheia? Seja como for,
Paira os lábios um sorriso lêlo...

Tudo é melhor do que a monotonia.
As lágrimas dão cor, têm movimento.
Que doce a chuva! A chuva só é fria
Nos ombros dos mendigos em que há vento.

Mas eu que sou feliz e vivo farto
Quando outros, por favor, dormem na rua
Respiro, ao ver, na jarra do meu quarto
(Que é de cristal!) uma camélia nua...

Pedro Homem de Mello (cortesia do Google)


Isabelle Ciaravola e Alexandre Riabko em A Dama das Camélias (do clássico de Alexandre Dumas Filho), Ópera de Paris,
coreografia de John Neumeier,
Chopin (Ballade n.1 in G minor Op.23

16/02/2013

Rosas


A idade da inocência é a melhor das idades. Picasso expressou bem a inocência no rapaz com cachimbo (1905), tela encantadora que não me importaria de ter. :)

Vinham Rosas na Bruma Florescidas

Vinham rosas na bruma florescidas
rodear no teu nome a sua ausência 
E a si se coroavam, e tingiam 
a apenas sombra de sua transparência. 

Coroavam-se a si. Ou no teu nome 
a mágoa que vestiam madrugava 
até que a bruma dissipasse o bosque
e ambos surgissem só lugar de mágoa. 

Mágoa não de antes ou de depois. Presente
sempre actual de cada bruma ou rosa,
relativos ou não no espelho ausente. 

E ausente só porque, se não repousa, 
é nome rodopio que, na mente, 
em bruma a brisa em que se aviva a rosa. 

Fernando Echevarría, in “Poesia 1956-1979”
Picasso, rapaz com cachimbo, 1905


14/02/2013

14 de Fevereiro, da política ou do amor?

Lisboa, Rua do Século

Num país cujos governantes são "uma máquina de destruir emprego", 
em que o estado social está a morrer, talvez seja o amor que nos faz erguer a cabeça.
Os portugueses são solidários e a comprová-lo esteve o sucesso do Banco Alimentar
 em dezembro passado. O que nos resta?

A-M-A-R

Recebi por e-mail um conjunto de cartões do M. Moleiro Editor e deles escolhi o fólio 28r.
É um cartão de amor para o dia dos Namorados, dia de S. Valentim. Embora, não seja uma tradição no nosso país este dia  já entrou na cultura portuguesa via comercial. Como é um louvor ao amor. Louvemos pois o dito.

«Splendor Solis ("The Splendour of the Sun") is a well-known colorful alchemical manuscript. The earliest version, written in Central German, is dated 1532–1535 and is housed at the Kupferstichkabinett Berlin at State Museums in Berlin. It is illuminated on vellum, with decorative borders like a book of hours, beautifully painted and heightened with gold. The later copies in London, Kassel, Paris and Nuremberg are equally fine. 
In all twenty copies exist worldwide.» 
Retirado da Wikipedia do link abaixo assinalado

  Splendor Solis, folio 28r


Feliz Só Será

Feliz só será 
A alma que amar. 
'Star alegre 
E triste, 
Perder-se a pensar, 
Desejar 
E recear 
Suspensa em penar, 
Saltar de prazer, 
De aflição morrer — 
Feliz só será 
A alma que amar. 

 Johann Wolfgang von Goethe, in "Canções" Tradução de Paulo Quintela (Citador)

 

13/02/2013

Auto-retrato

Auto-retrato

Ingredientes:

1 máquina fotográfica;
1 espelho ou mais;
1 colher de luz;
2 de sombra;
1 mente;
1 sem número de pixels.

Envolva tudo e já está.
Uma sombra sem rosto,
um sorriso sem face.




Toledo, edifício do antigo Tribunal do Santo Ofício


11/02/2013

Pierrot e mimosas

O Carnaval deste ano teve para mim o encontro com estas flores magníficas a que popularmente se chamam mimosas.
Mimosas da Serra da Lousã, as primeiras que vi este ano,




James Ensor, O desepero de Pierrot, também conhecido como Pierrot Ciumento, c.1910
Kroller Muller Museum

Ciumes

Pierrot dorme sobre a relva junto ao lago. Os cisnes junto d'elle passam sêde, não n'o acordem ao beber. Uma andorinha travêssa, linda como todas, avôa brincando rente á relva e beija ao passar o nariz de Pierrot. Elle accorda e a andorinha, fugindo a muito, olha de medo atraz, não venha o Pierrot de zangado persegui-la pelos campos. E a andorinha perdia-se nos montes, mas, porque elle se queda, de nôvo volta em zig-zags travêssos e chilreios de troça. E chilreia de troça, muito alto, por cima d'elle. Pierrot já se adormecia, e a andorinha em descida que faz calafrios pousou-lhe no peito duas ginjas bicadas, e fugiu de nôvo. 
De contente, ergueu-se sorrindo e de joelhos, braços erguidos, seus olhos foram tão longe, tão longe como a andorinha fugida nos montes. 
De repente viu-se cego - os dedos finissimos da Colombina brincavam com elle. Desceu-lhe os dedos aos labios e trocou com beijos o arôma das palmas perfumadas. Depois dependurou-lhe de cada orelha uma ginja, á laia de brincos com joias de carmim. Rolaram-se na relva e uniram as boccas, e já se esqueciam de que as tinham juntas... 
- Sabes? Uma andorinha... 
E foram de enfiada as graças da ave toda paixão. Pierrot contava enthusiasmado, olhando os montes ainda em busca da andorinha, e Colombina torceu o corpo numa dôr calada e tomou-lhe as mãos. 
Havia na relva uma máscara branca de dôr, e a lua tinha nos olhos claros um olhar triste que dizia: Morreu Colombina! 

Almada Negreiros, "Frisos", Revista Orpheu nº1. Lisboa: Edições Ática, 1971, p.71.


Frank Xavier Leyendecker (1876 - 1924),Arlecchino and Columbina,   
New York  em especial para Manuel Poppe [veja o primeiro link]


A eterna ópera, uma das primeiras que ouvi.

08/02/2013

Iluminuras no tempo de Santo António

Ando a ler um belo livro que me ofereceu MR. Trata-se de A Iluminura  de Santa Cruz no Tempo de Santo António, de Maria Adelaide Miranda. Lisboa: Editora Inapa, 1996.*

Imagem da esquerda: Tábuas da Concordância Evangélica. Estrutura arquitectónica. Colunas suportam arcos ultrapassados, com símbolos dos evangelistas. No friso superior combate entre animais apocalípticos. Bíblia, século XII, (Sta Cruz I, fl. 362v).
Imagem da capa  
É ao exemplo de Santo Agostinho que os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho vão buscar o arquétipo da vida em comum e ausência de bens. (p.5)*

Santo Agostinho é um dos doutores da Igreja que admiro. Nas minhas investigações ele tem um papel crucial. 

22. Mas eis que eu tiro da memória a afirmação de que são quatro as perturbações da alma, o desejo, a alegria, o medo, a tristeza, e o que quer que acerca delas puder dissertar, dividindo e definindo cada uma segundo as espécies dos respectivos géneros; na memória encontro, e aí vou buscar, o que digo, sem, no entanto, me perturbar com nenhuma dessas perturbações, quando as evoco, trazendo-as à memória; e estavam lá antes que eu as recordasse e voltasse ao contacto com elas; por isso, puderam de lá ser tiradas, mediante a recordação.
Santo Agostinho, Confissões X

06/02/2013

"...A beleza na forma"


I - BUSCO A BELEZA NA FORMA

— Busco a beleza na forma;
E jamais
Na beleza da intenção
A beleza que perdura.

Só porque o bronze é de boa qualidade
Não se deve
Consagrar uma escultura.

 in Canções de António Botto - Primeiro volume das obras completa (1941).


03/02/2013

«Alexander Dumas is black»

Eugène Delacroix, Alexandre Dumas(pai)

Django de Quentin Tarantino é um filme peculiar. Apesar da violência que o realizador utiliza para expressar as suas ideias, os diálogos são de uma profundidade e crítica que se fica rendido. 

As três personagens da fotografia são: em primeiro plano Django interpretado por Jamie Foxx; em segundo plano, Leonardo Di Caprio que interpreta Calvin Candie, um proprietário sulista e, em terceiro plano, Christoph Waltz que encarna o Dr. King Schultz, caçador de prémios e anti-esclavagista, quanto a mim é a personagem mais rica do triller. 

«Calvin Candie: White cake?
Dr. King Schultz: I don't go in for sweets, thank you. 
Calvin Candie: Are you brooding 'bout me getting the best of ya, huh?
Dr. King Schultz: Actually, I was thinking of that poor devil you fed to the dogs today, D'Artagnan. And I was wondering what Dumas would make of all this. 
Calvin Candie: Come again? 
Dr. King Schultz: Alexander Dumas. He wrote "The Three Musketeers." I figured you must be an admirer. You named your slave after his novel's lead character. If Alexander Dumas had been there today, I wonder what he would have made of it? Calvin Candie: You doubt he'd approve?
Dr. King Schultz: Yes. His approval would be a dubious proposition at best.
Calvin Candie: Soft hearted Frenchy?
Dr. King Schultz: Alexander Dumas is black.». [link]

Na biblioteca da família Candie passa-se um dos  momentos de maior tensão do filme e nela figura a imagem de Alexandre Dumas (pai). Dele li, há muitos anos, O Conde de Monte Cristo, um livro da biblioteca da minha avó.
Alexandre Dumas, pai, foi o mote para esta postagem. Acabei por procurar alguns dados biográficos que desconhecia pois não li nenhuma biografia do autor. No seu encalço encontrei três retratos - três idades - três pintores que apresento.

Marie Elisabeth Ernestine Philippain, Alexandre Dumas pai (1850-55)


Charles-Alphonse-Paul Bellay (1826-1900), Alexandre Dumas pai, palácio de Versailles, França


A fotografia é retirada do Google imagens e tratada por mim.

01/02/2013

É hora do chá

É hora do chá

– Que fazes, Ritinha,

 assim tão brejeira?

– Eu sirvo um bom chá,

 que fiz na chaleira,

 às minhas bonecas,

 pois é brincadeira.

Helena Pinto Vieira, O mundo da criança, vol. I, Rio de Janeiro, Delta: 1975. [Cortesia do Google]

(TEA) TIME

Arquivo