28/04/2018

De onde é quase o horizonte


De onde é quase o horizonte

De onde é quase o horizonte
Sobe uma névoa ligeira
E afaga o pequeno monte
Que pára na dianteira.

E com braços de farrapo
Quase invisíveis e frios
Faz cair seu ser de trapo
Sobre os contornos macios.


Um pouco de alto medito
A névoa só com a ver.
A vida? Não acredito.
A crença? Não sei viver.

4-3-1931


. Fernando Pessoa, Poesias. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p.133.


24/04/2018

Balada para um amigo

Para o Manuel Poppe, com o desejo que este dia seja um dia muito claro e feliz.

Parabéns!

Uma janela aberta, embore ande escondida.


Traz Outro Amigo Também

Amigo

Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja bem vindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também


21/04/2018

o sol - flor- tem várias texturas

girassol

- Não gosto deste jogo.
- Não interessa, Zofia.
-Quero ser a Selma.
- Temos de estar sempre a jogar este jogo ou vai acontecer-nos algo muito mau.
- Porquê? Porque é que toda a gente nos quer fazer mal?
- Explicar-te-ei quando fores mais cresdida, Zofia.
Mas agora querem fazer mal às pessoas que se chamam Schwarzwald e Litwak e por isso nunca mais dizes esses nomes.

R. D. Rosen, Memórias do Silêncio: As vidas das crianças que sobreviveram escondidas ao Holocausto. ( Trad. Pedro Garcia Rosado). Amadora 20/20 Editora, 2014, trecho retirado da badana da contracapa do livro.

[Uma das últimas leituras que me surpreendeu. Os testemunhos dos 3 casos visados vêm documentados com bibliografia]

14/04/2018

Desta Primavera envergonhada...

Um conjunto de  flores - 3 vasos


Flores amo, não busco. Se aparecem

Flores amo, não busco. Se aparecem
Me agrado ledo, que há em buscar prazeres
O desprazer da busca.
A vida seja como o sol, que é dado,
Nem arranquemos flores, que, arrancadas
Não são nossas, mas mortas.

16-6-1932

Ricardo Reis, Poemas.(Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, p. 163.

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