29/09/2016

Se podes olhar...

José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, Lisboa: Coleção Essencial Livros RTP

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Livro do Conselhos (s/nº p.)

24/09/2016

O mundo não é a preto e branco

Londres


O mundo não é a preto e branco,
nem tão pouco cinzento.
Ele é:
 azul,
amarelo,
rosa,
turquesa,
cinza escuro.
Tal como o Homem, nada é o que parece
nada parece o que é.
Ele é um ser múltiplo e finito.
Erra quem é daltónico nos seus julgamentos. 


11/09/2016

Em "clausura"

A minha torre de marfim, Monção


A todos venho agradecer a passagem e os comentários gentis. 
Peço desculpa pela minha ausência e pela falta de acompanhamento aos vossos registos e apontamentos que de certeza alimentariam a minha alma. 
Todavia, neste tempo que desenho de forma helicoidal, chegou o momento de alguma pausa. Letargia?, esvaziamento?, falta de capacidade de diálogo? 
Talvez.
O silêncio é por vezes necessário. 
O desejo que o mundo se torne uma grande almofada onde recostamos a cabeça e adormecemos torna-se pura realidade. 
Há input mas não se consegue fazer o output.
Que a amizade resista a estas ausências.
Boa semana!

10/09/2016

Xeque-mate

Xeque-mate

O meu baralho tem três reis, 
menos um.
O meu baralho tem peões 
e arqueiros.
O meu baralho 
é baralhado.
O meu baralho 
só joga xadrez.

ana



06/09/2016

In vino veritas


In vino veritas**,                                                       René Magritte, La Corde Sensible, 1960 cortesia da internet *
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Caio Plínio tinha razão,
a verdade está no vinho divino,
quando o seu perfume nos toca
a alma torna-se leve.

O choro brota seco sem lágrimas.
O rio corre, sem pressa, lento, 
serpenteia a montanha, ao sabor do vento,
cantando o Cântico dos Cânticos.

O cenário é rosa envelhecido
e rivaliza com o terra de siena.
O pintor retrata a paisagem em tons suaves,
quentes... mas vazios.


No centro da tela um circulo aberto esbate-se de forma concêntrica,
perde-se no espaço, transforma-se num pequeno ponto.
O rosa avermelhado aumenta ou diminui 
consoante o perfume do vinho.

O Jardim das Delícias brilha em cores psicadélicas.
É a nave dos loucos, criadores?
É criação fictícia, luxúria da mente e da carne.
Inferno, é a realidade após o sono.

In vinus veritas
repousam os pincéis,
as telas, as folhas brancas, vazias 
e as penas pousadas ao lado dos tinteiros.

In vinus veritas
a cabeça cai sobre a mesa,
os olhos fecham-se
e o amor torna-se sofrimento.

ana, 
5-09-16

** In vino veritas, in aqua sanitas (No vinho há verdade, na água a saúde), frase provável de Caios Plínio, o Velho.

*« Le nuage qui caresse un verre plus que ce verre ne le retient, que la proximité des montagnes libère plus qu’elle ne l’enferme, mène avec la douceur, la tendresse d’une main amoureuse, à une évidence finale. »

Louis Scutenaire daqui


02/09/2016

Suave a nuvem

Suave a nuvem 

Suave a nuvem que paira no céu.
Porém, não tanto como uma bola de sabão;
não se desfaz!
Fica na câmara guardada,
deixando o branco etéreo, enganador.
Não é branco, é cinza, é branco sujo,
é branco frio e branco quente.
Uma mera nuvem,
sem nada escrito,
pode deixar o vazio...
levar o sonho
e pesar tanto,
desfazendo-se como?
Como uma bola de sabão!

ana, 01-10-16


Para o Pedro: será que tem estes na sua rubrica, Intemporais? :))   

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