As horas passam ... o relógio não se compadece e por vezes pára sem fazer sentido!
(Sassetti pereceu aos 41 anos)
A TARDE VULGAR E CHEIA
A tarde vulgar e cheia
De gente que anda na rua,
Escurece, azul e alheia,
E a brisa nova flutua.
Havia verão com o dia,
Mas agora, Deus louvado,
Primaverou de outonia
Sob o largo céu parado.
Palavras! Nenhuma cor,
Que o céu finge, ou bisa aqui,
Torna real esta dor
Que tive porque a senti.
4 - 9 - 1930
Fernando Pessoa, Poesia 1918-1930 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005