24/01/2009

Le Corbusier, A Viagem do Oriente 1

Ir-se-á escrever nesta rúbrica: Viagens, as impressões que Le Corbusier, arquitecto francês, do início do século XX, apreendeu durante a sua viagem de Dresden a Constantinopla, de Atenas a Pompeia e anotou num caderno, com uma série de desenhos que o ensinam a olhar e a ver.




Le Corbusier




Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudónimo de Le Corbusier, nasceu em La Chaux-de-Fonds, a 6, de Outubro, de 1887 e morreu em Roquebrune-Cap-Martin a 27, de Agosto, de 1965, foi um arquictecto, urbanista e pintor francês de origem suíça ligado ao Funcionalismo Modernista.


ALGUMAS IMPRESSÕES:

"Viajando assim longos meses, em países sempre novos".

... Agora partem para o Oriente, imaginamos que suas intenções são nada perder do que a estrada oferece à direita e à esquerda... Quantas impressões então, diversas e múltiplas!...

Era verdade: sob as pesadas abóbadas de Tiegarten ou ao longo dos canais do Spree, nos nossos passeios demorados, acontecia-nos, ao voltar de uma caminhada fatigante pelos dédalos de pedra das cidades velhas ou novas da Germânia, falar mal de um domo venerado, pôr um ponto de interrogação sobre uma famosa cidade deitada na planície à foz de um rio e dominada por um "burgo" excessivamente romântico, praguejar contra uma carranca medieval enquadrada numa moldura de torreões, fossos e muralhas denteadas... A essa visão teatralizada, opus uma outra, menos em moda porque felizmente menos conhecida. um sorriso sereno sob o céu azul colocado em volta de pedras esculpidas e de rebocos cuidadosamente pintados sobre trigais dourados, onde irrompem flores vermelhas, onde se intensifica o azul em estrelas profundas. Falei com entusiasmo de certas realizações modernas, e definitivamente, critiquei a Alemanha medieval em proveito das obras calmas de cem ou duzentos anos atrás...

Além do mais, enfim, se a beleza parece-me feita de harmonia, e não de largura, extensão, altura ou somas dispendidas, ou de brilho teatral, acrescento a essa maneira de ver uma maneira de ser jovem- pecado efémero -, jovem e portanto inclinado aos julgamentos temerários. (...) Esta viagem do Oriente, longe das confusas arquitecturas do Norte, reposta a um apelo persistente do sol, das grandes linhas dos mares azuis e das grandes paredes amplas dos templos - Constantinopla, Ásia Menor, Grécia, Itália meridional-, será como um vaso de contorno ideal, do qual saberão derramar-se os mais profundos sentimentos do coração...

Eis que são duas da madrugada, no barco branco que desce o imenso rio entre Budapeste e Belgrado..."




Le Corbusier - A Viagem do Oriente, São Paulo: Cosac Nayfi, 2007 (apoio do Ministério da Cultura Francês - Centro Nacional do Livro), p. 13 a 16.

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