Árvore, cujo pomo, belo e brando Árvore, cujo pomo, belo e brando, natureza de leite e sangue pinta, onde a pureza, de vergonha tinta, está virgíneas faces imitando; nunca da ira e do vento, que arrancando os troncos vão, o teu injúria sinta; nem por malícia de ar te seja extinta a cor, que está teu fruito debuxando. Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo a meu contentamento, e favoreces com teu suave cheiro minha glória, se não te celebrar como mereces, cantando-te, sequer farei contigo doce, nos casos tristes, a memória.
Nem o mar ao longe, nem as árvores serenas,
acalmaram a tarde de Outono, quebrada pela notícias francesas do atentado islâmico.
Foto de Thibault Camus/AP
Em honra das vítimas do atentado, Cafetaria Carillon, Paris
O lançamento do livro de poesia :Não sei se o Ventode Rui Miguel Fragas, um amigo, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz.
A voz do mar
pertence ao mar. E o canto dos pássaros não te
pertence. Ouve os pássaros e ouve o mar e o vento
que sopra ao longe. Escuta os sinos da tua voz, lá
dentro do teu peito: há em tudo o que escutas
o mesmo rumor.
Mesmo que seja só uma promessa de sílaba uma
vogal apenas ou o rasto de uma vogal. Mesmo que
não chegue para dizer o teu nome, mesmo
que não chegue para me chamar.
O que está dentro do teu peito é mais do que tu: e o
que ouves é sempre mais
do que és capaz de dizer. A demora da luz e os
rituais da distância têm voz
mas não têm nome.
Só o rosário do silêncio me chama e ainda sou
capaz de ouvir as baleias do outro lado do mundo.
Só sei responder ao vento: por isso se me chamares
não te responderei.
Não queiras mais nada para além dessa sílaba
adiada, dessa vogal ou eco e do eco dessa vogal.
O teu nome é um nebuloso sussurro: vem de longe
e vai para longe, para lá de todas as luas de
saturno. És uma invocação sem apelo.
não tens nome quando te chamo.
Rui Miguel Fragas,Não sei se o Vento.Óbidos: Poética Edições, 2015,p. 61.
Na apresentação do livro, o Rui disse que o mundo é em si poesia. Respondo só o é para quem a vê. Poucos são os que a vêem, perdoem-me a arrogância. A escolha do poema inscreve-se no nome anónimo dos que morreram no atentado em França. O mar é agora a sua liberdade, mas pagaram-na bem cara.
A minha homenagem às vítimas do atentado de sexta-feira 13 em Paris: que a vida não seja apenas as folhas mortas que caem..., na voz de Yves Montant
Comecei a ler o livro: No Café da Juventude Perdida de Patrick Modiano. Dá vontade de encontrar um café assim...
Causa, no entanto, alguma nostalgia juntamente com o Inverno. Apetece dizer: Carpe Diem, pega na mochila e parte.
Janelas de Paris
O ano começa no mês de Outubro. É o início das aulas e julgo ser a estação dos projectos. Portanto, se Louki entrou no Condé pela primeira vez em Outubro, foi por ter rompido com uma parte da sua vida e querer COMEÇAR DE NOVO, como se lê nos romances.
Patrick Modiano, No Café da Juventude Perdida. Lisboa: Asa, 2014 (2ª edição), p. 17.