30/09/2017

Janela de vão de escada

Janela de vão de escada


Não basta abrir a janela


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

4-1923


Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993), p.75.

1ª publ. in “Poemas Inconjuntos”. In Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.


13 comentários:

  1. Gosto bastante do poema, talez por concordar em grande parte com ele. Ainda que reconheça, há momentos de tudo, não se filosofa sempre, nem sempre se contempla. E por isso há tempos e janela aberta e janela fechada. Cada uma com seu encanto.
    A canção usa uma voz bonita.

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    1. Obrigada, Margarida.
      É uma janela que não se pode abrir porque torna-se indiscreta.
      Beijinhos. :))

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  3. Mestre Caeiro que "partiu tão novo", possui a genialidade dos heterónimos de Fernando Pessoa.
    Bom domingo!

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    1. Mister Vertigo.
      É um dos meus preferidos.:))
      Bom fim de semana!:))

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  4. A genialidade de Pessoa abriu muita janela para a gente ver para além de.
    A fotografia foi muito bem encontrada para o momento poético. Ou vice-versa.

    E para que se quer uma janela,
    assim, de vão de escada,
    atalho para quem entra
    por onde rapidamente se sai?
    Sem ter sequer ideia, nem filosofia.

    Bj.

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    1. Obrigada, Agostinho,
      Gostei dos seus versos. :))
      Beijinho.

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  5. Apesar de ter alguma lógica, a personalidade deste heterónimo nunca me agradou...
    Gostei muito da canção e voz da Pauline Ester.
    Beijinhos, Ana.
    ~~~~

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    1. Obrigada, Majo.
      Gosto muito deste heterónimo, qual é o seu preferido?
      Beijinho.:))

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  6. Ah, este Pessoa (sorry, Alberto Caeiro), sempre céptico...
    "Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
    E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
    Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
    Pois é, mas mesmo assim vale a pena abrir a janela! quem sabe se, afinal, não existiria o sonho do lado de fora da janela?
    Um beijo

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  7. Maria João,
    Obrigada pelo seu optimismo tão salutar e benéfico.
    Beijinhos. :))

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  8. Muito bonita a tua janela e tudo o resto...
    beijinho amigo

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